A armadilha

A direita mais rasa vem pautando as esquerdas no Brasil. Depois das controvérsias da exposição Queermuseu no Santander e da performance do homem nu tocado por uma criança em São Paulo, eles vieram com o ‘plebiscito’ separatista gaúcho. E virão com outras provocações.

A direita soltou a franga e vai inventando pautas em que a arte é um bom pretexto, porque assim pretende glamourizar até um Alexandre Frota. E a esquerda sempre embarca e fica entretida. E assim as esquerdas vão oferecendo à direita uma interlocução há horas inviabilizada pelo impasse do debate político.

Como não dá pra debater política no que interessa, que se debata se uma criança tocando num homem nu é pedofilia. E a partir daí qualquer abordagem está liberada, sob o argumento de que nos envolvemos agora com questões culturais misturadas a conceitos sobre costumes. Estamos num simpósio medieval ou mesmo pré-Platão.

Durante muito tempo foi o contrário. A minha geração viu as esquerdas pautando a direita, e a direita virando-se como podia para se defender. Da segunda metade do século passado até agora, a direita só se defendeu.

O Brasil golpeado anda agora a reboque do que o reacionarismo mais rasteiro propõe. Há alguma vantagem nisso, ou não se tira proveito nenhum de um embate entre o presumido pensamento de um militante do MBL e de um doutor da UFRGS e de Alexandre Frota com Caetano Veloso?

A vantagem pode ser que assim lemos textos do Luis Augusto Fischer, da Céli Pinto e do Francisco Marshall e nos divertimos com o sarcasmo do Zé Adão Barbosa.

Mas eu não queria que eles fossem pautados por essa gente. Isso é regressivo demais. Daqui a pouco estaremos discutindo com chimpanzés amestrados (o que talvez até seja mais interessante). A direita nos levou pra jaula.

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