A DEGOLA DOS ‘VELHOS’

Minha amiga Graça Craidy me contou há muito tempo uma conversa com um chefe esperto de uma agência de propaganda de São Paulo. O homem reclamou de algo e decretou: um publicitário tem vida útil de 15 anos.

Depois disso, começa a se repetir e a perder a vitalidade criadora. Ainda bem que hoje Graça é uma baita artista plástica e pode se repetir à vontade.

Pensei nisso ao ler agora que as demissões na Estácio de Sá foram suspensas pela Justiça do Trabalho porque a universidade estaria mandando embora os mais velhos. E isso que os professores maduros sempre foram considerados os mais sábios em muitas áreas da academia, principalmente o reduto das humanas.

Mas a reforma trabalhista não quer saber de sábios, quer viabilizar negócios em todas as áreas. No jornalismo, por exemplo. Mario Marona, ex-editor-chefe do Jornal Nacional, escreveu certa vez que um jornalista dificilmente será repórter depois dos 60 anos. Os jornais também estão mandando os ‘antigos’ embora.

Meu grande amigo virtual Alexandre Caetano, que morreu sem que a gente se encontrasse, era engenheiro. Ele me disse em email, pouco antes de morrer, que um engenheiro não pode ficar desempregado por muito tempo. Quando tenta voltar, nem os parafusos o reconhecem como engenheiro. Alexandre morreu desempregado.

Hoje, falando-se com quem está por perto, percebe-se que a sensação geral é de que o tempo de duração de alguém em qualquer lugar está sendo abreviado. Gente de 40 anos se sente jovem no comportamento, no estado físico e mental, mas velha como “força de trabalho”.

As universidades, as empresas em geral, em todas as áreas, estão se desfazendo cada vez mais cedo dos seus talentos. As pessoas estão envelhecendo mais cedo para as empresas. É um fenômeno do nosso tempo.

Acabou a conversa mole de que as empresas veneravam seus funcionários e os homenageavam pelo tempo de casa. Agora, tempo de casa é ameaça. É sintomático também que as demissões em massa, acionadas pelo fim das leis trabalhistas, tenha começado nas universidades privadas.

Poderiam ter iniciado nas fábricas (onde chegarão logo), nas farmácias, ou nas ferragens, ou quem sabe até nos hospitais. Mas não. Começaram pelas universidades privadas.

As universidades têm de ensinar o que os outros precisam saber e fazer. E este é o ensinamento hoje: mandem seus ‘velhos’ embora, sem culpas e sem remorsos.

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