A grande imprensa foi ao encontro da morte ao apoiar o golpe

Quem procurar não vai achar uma, só uma, grande reportagem do jornalismo brasileiro sobre a Lava-Jato. Há notícias bombásticas, há manchetes espalhafatosas, há até o prêmio de jornalismo da Folha de S. Paulo para uma reportagem sobre a suspeita de que o sítio de Atibaia seja de Lula (o jornalismo, inspirado talvez em certo Ministério Público, passou a premiar suspeitas como se fossem verdades).

Foram produzidas nesses últimos dois anos centenas ou milhares de notícias baseadas em vazamentos e delações. Mas tudo que a imprensa brasileira fez em torno da Lava-Jato é resultado da troca de informações entre repórteres e gente interessada em fazer circular alguma notícia contra Lula, Dilma e o PT.

Dirão os sabichões que sempre foi assim. Que as informações sempre circulam porque alguém (geralmente um pilantra) tem o interesse de fazê-las chegar ao grande público. Sim, foi assim no caso exemplar do jornalismo investigativo, o Watergate, que resultou na queda de Nixon.

Um agente ressentido do FBI vazou informações decisivas aos repórteres do Washington Post. E o jornalismo foi, a partir dali, cercando o presidente, mas sempre com investigações.

Mas o jornalismo brasileiro da Lava-Jato, asfixiado pelos comandos das redações, não investiga. Só ouve os gargantas-profundas da direita. Sempre os mesmos, com as mesmas informações vazadas (do Ministério Público? Da Polícia Federal? Dos advogados da direita? Da turma do Jaburu?).

Dirão também, em defesa da grande imprensa, que os jornais continuam produzindo informações relevantes. Sim, esta é a grande tarefa do jornalismo. Seria como dizer que, apesar de tudo, os políticos continuam fazendo política e que os juízes continuam julgando.

É óbvio que os jornais da mídia tradicional ainda fazem jornalismo, mas se dedicam cada vez mais ao básico, ao elementar, e cada vez menos ao excepcional. O jornalismo que contribuiu para a redemocratização, que assumiu as grandes causas e correu riscos, este não existe mais. A mídia está abraçada ao golpe. A imprensa decidiu também ser golpista.

A imprensa pré e pós-golpe acaba por sufocar toda uma geração de jovens jornalistas, submetida nas grandes redações às piores orientações sobre o que deve ou não fazer. Sei porque converso com colegas da imprensa do centro do país (alguns veteranos estão constrangidos com o que acontece no final de suas carreiras).

É de envergonhar o balanço das manchetes que foram feitas e refeitas com as informações da lista de Janot, com o negaceio, com o drible no leitor, sempre com a intenção de esconder os tucanos.

O jornalismo brasileiro retroagiu aos piores tempos. Erra quem disser que os jornais regrediram aos tempos da ditadura. Não. O jornalismo das redações (não o dos patrões) enfrentou a ditadura.

É triste. A ascensão de Trump ressuscitou o jornalismo americano. O golpe do Jaburu cooptou e aniquilou o jornalismo brasileiro.

 

 

 

4 thoughts on “A grande imprensa foi ao encontro da morte ao apoiar o golpe

  1. Fui jornalista dos tempos do jornalismo comprometido com a sua missão de ser a ponte entre a informação e o cidadão. O real. Tenho as mesmas tristes e lamentáveis constatações e fico feliz de ver alguém que as torna públicas. Obrigada. E parabéns.

  2. O Moisés Mendes, SEGURAMENTE É A MAIOR REVELAÇÃO JORNALÍSTICA DO RIO GRANDE DO SUL, NOS ÚLTIMOS 20 ANOS. além DE JORNALISTA É ESCRITOR, TENDO LANÇADO, HÁ POUCOS MESE, UMA MARAVILHA LITERÁRIA, “TODOS QUEREM SER MUJICA”, LIVRO QUE REUNE MUITAS DE SUAS CRÔNICAS. SÓ LENDO SE DARÁ VALOR. RECOMENDO-O.

  3. A imprensa, salvo raríssimas exceções, é formada por baluartes do senso comum, mas com o rei na barriga. São incapazes de qualquer crítica e, como tal, reproduzem acriticamente qualquer coisa. E interditam qualquer debate que você queira fazer sob o argumento de censura. Por exemplo: você precisa ouvir só dez minutos das manhãs da rádio Gaúcha e saberá a programação da semana inteira. É sempre a mesma coisa, exatamente as mesmas opiniões, zero pluralidade (entrevistam sempre as mesmas pessoas – o Gilmar Mendes eles tem abstinência se não entrevistarem uma vez por semana pelo menos).
    São medíocres, trabalham feito escravos, ganham pouco, mas se acham. É a classe mais pobre, no sentido político, de todas. Mas se acham.

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