BOLSONARO E SERGIO MORO NO AVIÃO

Bolsonaro embarca no avião presidencial que vai levá-lo a Davos e logo manda chamar Sergio Moro, que havia sentado bem ao fundo, na janelinha da direita.

O ministro da Polícia senta-se ao lado do presidente e ouve sua ordem, com alguma rispidez: é preciso parar com os vazamentos no Coaf.

O presidente diz que as informações sobre a dinheirama de Queiroz e de Flávio Bolsonaro, vazadas para a Globo, vão destruir o filho, a família, o governo e o Brasil.

– Você manda no Coaf – afirma Bolsonaro.

Sergio Moro responde com a voz um pouco mais fina do que a normal.

– Mas não consigo controlar essa gente. As investigações foram feitas antes da minha chegada. Eles não são dos nossos no comando do Coaf.

– Mas você pode conter os vazamentos contra o meu filho.

– Vou ver se posso. Eu mesmo vazei, e vazei muito, quando comandei a Lava-Jato. O grampo da Dilma na conversa com Lula foi vazado por mim para a Globo.

– Eu me lembro.

– Eu sempre vazei o que era possível vazar e sempre argumentei com essa frase, que disse num seminário da revista Veja, em novembro de 2017: “Não cabe ao Judiciário ser guardião de segredos sombrios”.

– E daí? Agora não há segredos sombrios. Nada na minha vida é sombrio, nem o Queiroz.

– Eu sempre repeti que o interesse público está acima disso tudo, que a divulgação de fatos investigados ajuda a missão do Judiciário contra a corrupção – diz Sergio Moro.

– É complicado isso daí.

– O senhor estava nesse seminário. Essa outra frase também é minha: “Dentro de uma democracia liberal como a nossa, é obrigatório que essas coisas sejam trazidas à luz do dia”.

– Que coisas? Tudo?

– Estou falando da Lava-Jato. Não falo do senhor e dos seus filhos, que são honestos. Mas o que eu gostaria mesmo é de ficar em silêncio e só falar em juízo.

– Mas você não está sendo processado.

Moro passa a mão na testa e fala com a voz ainda mais fina, como se fosse a voz de um adolescente em falsete:

– É verdade, meu presidente.

Bolsonaro pede então que Sergio Moro se retire. Quando o ministro da Polícia se levanta, Bolsonaro determina:

– Agora me chama o Onyx.

E Onyx, que está bem no fundo do avião, conferindo notas de gastos numa lancheria de Brasília, caminha firme em direção à poltrona presidencial.

O avião começa a taxiar na pista e o comandante anuncia aos ilustres passageiros:

– Iniciamos nesse momento nossa viagem com Deus acima das nuvens e de todos.

Bolsonaro toma um gole de suco de laranja e diz a Onyx:

– Preciso da tua ajuda.

O avião balança, como se tivesse entrado numa zona de turbulência, mesmo estando no solo, o copo pula e vira o suco de laranja na gravata amarela de Bolsonaro.

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