Cães e tiros

Vi os vídeos do tiroteio em São Paulo, quando a polícia matou 10 ladrões no Morumbi. É tudo muito assustador e também cada vez mais ‘natural’.
Parece longe, mas cenários como este estão se formando aqui perto de nós. Estamos no mesmo padrão. Estatisticamente, considerando-se os tamanhos de Porto Alegre e São Paulo, estamos na frente. Matam mais aqui. São bandidos matando bandidos. O tráfico não tem mais os grandes e respeitados chefões. Os pequenos se matam entre eles.
E aqui temos mais chacinas com cabeças decepadas do que lá, pela tradição da degola gaúcha, talvez. Lá eles são mais cinematográficos.
Quase todas as noites ouço tiros na Aberta dos Morros. Geralmente perto da meia-noite. Penso em execução. E também imagino ladrões saltando muros, perseguidos por um enxame de balas e um vira-latas.
São tiros secos, em sequência. Para o alto? Para baixo? Para os meus lados? Já ouvi mais de 10 tiros. Vou dormir achando que é assim mesmo. Os cachorros continuam latindo e no outro dia não vejo nada nos jornais.
Às vezes, um helicóptero sobrevoa a região. Um dia desses um deles fez uma curva, veio em direção à minha rua e jogou o facho daquele canhão de luz dentro da minha casa. Devem ter me visto saindo da janela. Pensei se não deveria ter ficado, para não parecer suspeito.
As coisas, os helicópteros, os tiros estão chegando perto demais da gente.
Penso que os cães estão sempre latindo sem parar à espera dos tiros da meia-noite. Até os cães sabem que esses tiros podem estar matando quem não é mais notícia. Só quando tem chacina.

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