É o mercado, estúpido

Textos que falam do tráfico e do consumo da cocaína no Brasil e da relação disso tudo com rebeliões e massacres em presídios. Foram essas, quase que como obsessão, as minhas leituras da semana.
Minha síntese pode estar na frase já clássica de James Carville, assessor de Bill Clinton anos anos 90: é a economia, estúpido.
A estrutura que sustenta o mercado da droga não tem correspondência na estrutura estatal. Não há no Brasil (e parece que não há no mundo, com as exceções) investimento em repressão e contenção correspondente ao comércio e ao aumento do consumo de cocaína, em especial, e do número dos que se mobilizam para abastecê-lo.
Esse é um mercado cada vez mais dinâmico, por causa da oferta, do preço (que dizem que não sobe tanto) e do fato de que não só os bacanas, como se pensava até bem pouco, consomem coca. Cheira-se como nunca antes e em todas as classes, e não só entre os ricos. E traficar é prosperar, é ser empreendedor, ser capitalista, entre adolescentes e entre veteranos.
Essa não é uma observação moralista, porque quem gosta disso é a turma do Bolsonaro. É uma constatação óbvia. Os fornecedores de droga, em todos os estágios, do atacado ao varejo, não contam no Brasil com estrutura estatal que os entenda – desde o primeiro estágio da absorção de crianças pelas quadrilhas e depois como grupos organizados ou desorganizados –, que os reprima e que os controle na cadeia.
O liberalismo, em sua versão mais primitiva, prospera com força no tráfico, nos morros, nas ruas. E agora prospera nas prisões. E o Estado? O Estado deixa, como querem os nossos ‘liberais’, que o mercado regule tudo, com ou sem matanças. Inclusive nos presídios privatizados.
O capitalismo brasileiro tem agora a sua versão barbárie.

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