E o povo?

Algumas reflexões pessoais, depois de voltar da caminhada em Porto Alegre pela queda do homem do Jaburu.

1 – Tinha muita gente nas ruas. Me surpreendi com a quantidade de gente e percebi que essa era também a surpresa de muitos que estavam ali. O desafio agora é este: manter a ocupação das ruas, porque sem as ruas o homem não cai.

2 – Vinha ouvindo uma rádio gaúcha no carro, com quatro comentaristas analisando a situação geral. Uma analista conduziu a conversa, sem contestações, dizendo que o homem do Jaburu poderá cair por três motivos.

O primeiro motivo: perde o apoio político no Congresso e dentro do governo, perde, enfim, a tal base de sustentação e renuncia, o que ele já disse que não faz. O segundo: sofre impeachment, o que os analistas acham improvável. E o terceiro motivo: tem o mandato cassado no processo que julga as contas da campanha Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral.

Nenhum dos analistas lembrou-se de um detalhe: o homem do Jaburu não pode, quem sabe, vir a ser derrubado pelo povo, pelas ruas, por uma insatisfação geral que se manifeste com determinação?

Por que eles não falaram do povo? Talvez porque as vontades do povo sejam irrelevantes para alguns analistas. E talvez porque eles duvidem da capacidade do povo de manter mobilizações como a desta noite.

3 – Fiquei envergonhado com uma manchete que a Folha online manteve por pelo menos uma hora sobre o trecho do grampo em que Temer e o mafioso da JBS conversam cobre a mesada para Cunha. A manchete da Folha dizia: “Conversa sobre Eduardo Cunha é inconclusiva”.

Inconclusiva como? A Folha acredita que, quando Joesley diz que “eu to bem com o Cunha”, Temer comenta que “tem que manter isso, viu?” e o outro responde “todo mês”, que eles talvez estivessem falando de flores e não de dinheiro.

A Folha não vê, como o procurador Rodrigo Janot já viu e qualquer um pode ver, que eles tratam, no contexto da conversa, do dinheiro que o empresário deve dar “todo mês” a Cunha.

Foi assim que a Folha tentou, vergonhosamente, desqualificar o trabalho do Globo. Depois, meio que se arrependeu e retirou a manchete, mas já era tarde. A Folha, com sua prepotência, ofereceu argumentos ao homem do Jaburu.

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