MARCO AURÉLIO E A PODRIDÃO DA JUSTIÇA

O ministro Marco Aurélio Mello tomou a decisão solitária de permitir a libertação de presos por condenação em segunda instância sabendo que poderia ser derrotado logo adiante. Ele sabia que a liminar não iria sobreviver.
Sabia que seria atacado pelos ‘liberais’ do Direito, por toda a direita golpista e pela nova direita bolsonarista, com o apoio da imprensa e de todas as estruturas mantidas desde o golpe.
Sabia que seus colegas de Supremo, acovardados desde antes do golpe, fariam tudo para desqualificar a decisão. E sabia que Sergio Moro, o juiz apressado, e os procuradores apressados da Lava-Jato poderiam dizer que ele agiu com pressa e fora de hora às vésperas do recesso da Justiça.
Marco Aurélio sabia disso tudo, porque vem sendo esnobado e depreciado por seus pares, em especial pela ex-presidente do Supremo Carmen Lúcia, desde o momento em que propôs que o STF finalmente decidisse sobre a prisão em segunda instância.
Não decidiram porque Lula poderia ser favorecido.
Mas se sabia que seria derrotado, por que Marco Aurélio adotou uma decisão monocrática, que toda a direita justiceira atacaria até torná-la inútil? Porque foi esse exatamente o objetivo da sua decisão, mesmo que ele não tenha nenhuma simpatia pelas esquerdas.
A questão posta por Marco Aurélio não é política nem ideológica, como são as reações à sua liminar. Amparado pela Constituição, o ministro decidiu conceder liminar para a soltura de condenados em segunda instância porque sabia que assim, ao defender o Supremo, iria expor o cinismo da própria Justiça.
Marco Aurélio não rompe com a instituição que o acolhe, mas – ao tentar preservar suas prerrogativas – acaba por expor sua face mais cretina. Marco Aurélio não quer ser governado pelas ordens de primeira e segunda instâncias de gente como Sergio Moro.
O Supremo das banalizadas decisões monocráticas que favorecem sempre os bandidos da direita não aceita a decisão monocrática de Marco Aurélio, não porque privilegia bandidos diversos, mas porque libertaria Lula.
Marco Aurélio denunciou parte da superfície de podridões profundas do Judiciário e por isso é hoje meu herói. Amanhã pode não ser mais, mas isso não interessa.

 

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