MARIELLE NAS MÃOS DA GLOBO
A Globo quer se apropriar da imagem de Marielle Franco. Ontem, para homenageá-la, o Fantástico descobriu a Declaração dos Direitos Humanos e informou que se trata de uma convenção assinada também pelo Brasil.
A Globo sabe que a direita sabe o que significa a Declaração. Todos os que combatem defensores de direitos humanos sabem. Bolsonaro e seus seguidores sabem muito bem.
E todo mundo sabe que a Globo exalta sem parar a memória de uma defensora dos direitos humanos porque Marielle Franco está morta. Não há na história da Globo nada que recomende a ver sinceridade nessa exaltação.
A Globo teatraliza questões fundamentais e temas como esse em novelas e no jornalismo, mas foge da realidade que a incomoda. A esquerda em que Marielle militava incomoda a Globo. Os vínculos de gente com a bravura de Marielle com negros e pobres também incomodam.
A esquerda incomoda a Globo e os que fingem não saber o que são direitos humanos. Mas a Globo gosta de heróis mortos como figuras míticas e finge gostar até de Che Guevara.
Para a direita, guerreiro bom é guerreiro morto. Guerreira valente é a que pode ser explorada pelo marketing global. A Globo teme e esconde de seus programas os militantes de esquerda vivos e só espera que virem mártires para poder usufruir de suas imagens.
Foi o que fez ontem com Marielle, a vereadora eliminada no começo de uma intervenção que ela condenava, porque somente iria pegar os pobres.
A Globo exaltou Marielle, fez o Brasil chorar de novo por Marielle e no fim defendeu a intervenção, como irá defender de novo hoje, contra negros e pobres.
A memória de Marielle não pode ser manipulada pela Globo, pela grande imprensa e por jornalistas fofos a serviço do golpe e da intervenção.
Alguém disse que Marielle era “uma potência” por sua capacidade de agregar, mobilizar, de acusar as milícias, criar empatia, de defender seu povo. Pois a Globo quer tratar Marielle a seu modo, para que sua imagem seja pasteurizada e perca a potência que a grande imprensa teme nos que continuam vivos.
A direita deve cuidar da imagem de Sergio Moro e de Bolsonaro. Marielle era uma radical da democracia e dos direitos humanos.