O apaixonante debate sobre a cabeça do porco

A lista de Janot sumiu dos jornais. O que importa para o Brasil hoje é saber se podemos ou não comer pasta de cabeça de porco em embutidos.

O Jornal Nacional ouviu ontem até uma especialista no uso adequado de cabeça de porco. Ela disse que não há nada de anormal em se comer a cabeça, desde que esteja bem tratada.

Não se sabe mais nada dos embutidos vencidos da lista de Janot com os cabeças do PSDB e do PMDB na Lava-Jato. Mas sabemos quase tudo sobre a cabeça de porco e sobre o papelão em guisados e salsichas.

O Brasil parece ter submergido num debate adequado à situação que vivemos, em que as cabeças, as nossas, não as dos porcos, estão cada vez mais embaralhadas. Como um país abandona a lista do Janot para se dedicar a um dilema filosófico pré-socrático sobre a cabeça do porco?

Fazendeiros, grileiros, devastadores de florestas, todos os latifundiários apavorados com o estrago da cabeça de porco em seus negócios bovinos bradam por clemência. Seus líderes dizem na TV, nos rádios, nos jornais que o grande crime da operação carne fraca é a generalização.

A generalização que eles defenderam e defendem contra Lula, contra Dilma, contra quem for das esquerdas, agora é uma questão a ser levada em conta, porque teria se voltado contra eles. A caçada à carne podre chegou ao reduto do atraso brasileiro, disso que se convencionou chamar de forma genérica de agronegócio.

O horror da cabeça de porco, que ameaça as exportações e compromete a imagem limpinha dos frigoríficos, transfere para o campo o que o campo queria que fosse aplicado (e aplicaram) a Dilma e Lula.

A porção mais reacionária do Brasil – a mais golpista, a da campanha moralista mais rasteira, a dos eleitores do centro-oeste de Caiado e assemelhados, dos que odeiam, perseguem e matam índios e sem-terra – esperneia diante da ameaça da ‘generalização’. São poucos os criminosos, dizem os líderes da boiada e dos frigoríficos na TV. Não são. São muitos e são os maiores.

Mas seria bom que se deixasse de lado o debate sobre a cabeça do porco e se retomasse a discussão sobre as novas salsichas da Lava-Jato, os embutidos da direita da lista de Janot.

Que volte a se debater o que o Ministério Público e a Justiça farão com os corruptos do PSDB e do partido do homem do Jaburu. Chega de cabeça de porco. Que entreguem logo as cabeças dos tucanos impunes.

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