O CINISMO DOS PROCURADORES

Bolsonaro pode dizer que defende a imprensa livre, desde que não chegue perto do Queiroz, como não vem chegando. Ele pode dizer e não significa nada. Todo mundo sabe o que ele pensa. O que ele diz não tem relevância.
Mas os procuradores da República que gritam contra os desmandos do Supremo, diante da ameaça de serem investigados, são mais cínicos do que o próprio Supremo. Os procuradores nunca ergueram a voz contra os desmandos de colegas que atuaram e atuam na Lava-Jato.
Nunca ouvi um procurador dizer que as delações forjadas e os vazamentos eram ilegais ou imorais. Nunca se ouviu uma voz em desacordo com o power point de Deltan Dallagnol, só para dar um exemplo.
E agora a jornalista Consuelo Dieguez mostra na Piauí que, incentivada pelo Ministério Público, para que seus executivos façam delações na Lava-Jato, a empreiteira CCR vai remunerar os delatores.
Mais do que remunerar, vai premiar quem fizer delação. Para que os delatores não enfrentam problemas financeiros, a CRR gastará R$ 71 milhões com esse prêmio.
Cada delator vai receber da empresa R$ 78 mil mensais por cinco anos. Tudo como compensação pelas delações. Para que se faça justiça, um procurador, Adonis Callou, ouvido por Consuelo critica a mutreta.
“Os acordos (de delação) existem para ressarcir os lesados e não os que cometeram crime”, disse o procurador à jornalista.
Pois então não venham os procuradores com essa história corporativa e pretensamente legalista de que o Supremo não pode conduzir investigações porque isso é ilegal ou inconstitucional, além de caracterizar perseguição.
A Lava-Jato será um dia desvendada quando chegarem aos seus subterrâneos. E muitos procuradores, que hoje gritam contra perseguições, estarão lá ou terão deixado rastros das suas atuações no mínimo controversas.

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