O domingo, o inferno e o imponderável

(Este texto foi publicado dia 31 de julho, no blog do Facebook)

O domingo empurra para a segunda-feira uma pergunta que desde o final da tarde se repete e desconsola: por que não foi mais gente pra rua?
Primeiro, porque ninguém esperava muita gente mesmo. Porque a capacidade de mobilização de rua pode ter chegado à exaustão (as esquerdas terão de conviver, com franqueza, com essa realidade).
Porque a grande maioria sabe que a única saída (mesmo que utópica) seria uma nova eleição. Que depende de plebiscito, que depende de emenda à Constituição, que depende do Congresso, que depende de toda a máfia política que está aí e não pretende conspirar contra ela mesma.
Não foi mais gente pra rua porque passamos da antessala do purgatório de Dante, onde os arrependidos teriam a última chance. Chegamos ao purgatório mais profundo, em que o que predomina agora é a resignação.
Depois de tanta bordoada, a classe média perdeu forças. O povo (aquele povo ainda idealizado) não vai pra rua, e a rua talvez não derrube mais ninguém.
E nos encaminhamos então para o inferno. A não ser que um milagre aconteça e Dilma não seja derrubada. Mas mesmo assim teríamos de pensar no que fazer depois. E o depois depende de novas eleições, e novas eleições dependem…
O único consolo do domingo é que a classe média golpista verde-amarela, a do Parcão e a da Avenida Paulista, foi às ruas com faixas de exaltação a Sergio Moro. “Somos Moro” é o único slogan da direita agora.
Moro foi o que sobrou pra eles. Porque ninguém confia no interino, no Padilha, no Moreira Franco e no Geddel. A direita queria mesmo um tucano no poder, qualquer um deles, mas os tucanos perderam as últimas oito eleições. Tucano somente chega ao poder com golpe, e na cacunda do PMDB.
Ajeitem-se no corredor do inferno porque o que vem aí é o fogaréu da parte mais imunda do serviço sujo das “reformas”. O interino não assumiu para fazer outra coisa que não seja o serviço em nome do pato da Fiesp. A lista de maldadas é conhecida e não vou repeti-la.
E agora? Agora, tudo o que pode e não pode acontecer está, como diria o bruxo Nelson Rodrigues, nas mãos do Imponderável de Almeida.

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