O JUIZ QUE SE ADONOU DOS DELATORES

Podem ser juridicamente perfeitos (neste país em que as imperfeições são aplaudidas até no Supremo) os argumentos do juiz Sergio Moro para blindar os delatores da Lava-Jato. Mas os pretextos são tortos, sob qualquer outro ponto de vista, inclusive o moral.
Ficamos sabendo agora à noite pela imprensa dos motivos da blindagem, que estava sob segredo de Justiça até a tarde.
O juiz simplório finalmente revelou detalhes da sua decisão. Nenhum outro órgão, nem mesmo o Banco Central ou a Receita Federal, podem ter acesso e usar as provas oferecidas pelos delatores da Lava-Jato porque isso poderia, entre outras coisas, inviabilizar futuros acordos.
É mais um argumento destruidor da reputação da Justiça. O juiz Moro se considera no direito de ter a exclusividade da punição de corruptos. Há muito tempo ele insinua isso.
Mas juiz algum poderia se sentir tão poderoso a ponto de entender que suas deliberações são mais importantes do que as de outras autoridades envolvidas em iniciativas com o mesmo objetivo.
É torto o argumento central do não compartilhamento de provas. Moro não pode achar que o trabalho da Lava-Jato está acima do que pode e deve ser acionado, na mesma linha, por outras instituições.
O argumento mais frágil e moralmente mais comprometedor é o de que futuras investigações de outros órgãos podem tudo, desde que seus resultados não se voltem contra os bandidos que delataram seus cúmplices.
Os bandidos devem ser protegidos pelos acordos que fizeram, sem nenhum questionamento. Os acordos, que levam à impunidade dos delatores, são um bem a serviço de Sergio Moro e apenas dele. Moro é dono absoluto das provas da Lava-Jato.
Chegamos mesmo ao fundo do poço. Instâncias superiores podem até sustentar os argumentos de Sergio Moro (como já fizeram em outras ocasiões). Mas estamos diante de mais uma aberração da Justiça da Lava-Jato.
Sergio Moro prova que faz o que bem entende. E que, no país do golpe, com o Supremo e com tudo, ninguém desafia seu poder de encarcerar corruptos preventivamente, obter delações e depois soltar seus informantes sem nenhuma pena, como aconteceu com muitos deles. Não há melhor negócio no país hoje do que ser delator profissional da Lava-Jato, sob a proteção da blindagem de Curitiba.
Pedro Barusco, Alberto Youssef, Paulo Roberto Costa e outros sabem bem. Um juiz simplório manda no Brasil.

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