O perigoso estágio da Lava-Jato

É grave o que aconteceu com o blogueiro Eduardo Guimarães hoje em São Paulo. O juiz Sergio Moro determinou que a Polícia Federal ouvisse o depoimento de Guimarães. Mas sob condução coercitiva.
O blogueiro, segundo seus advogados, está sendo pressionado a dizer quem foi a fonte das informações que ele divulgou em março do ano passado, antecipando a condução coercitiva de Lula. A divulgação da informação teria configurado um delito.
Além de fazer a condução coercitiva, por ordem de Moro, a PF vasculhou o escritório de Guimarães e recolheu equipamentos. Porque o juiz determinou “a apreensão de quaisquer documentos, mídias, HDs, laptops, pen drives, arquivos eletrônicos de qualquer espécie, arquivos eletrônicos pertencentes aos sistemas e endereços eletrônicos utilizados pelos investigados, agendas manuscritas ou eletrônicas, aparelhos celulares, bem como outras provas encontradas relacionadas aos crimes de violação de sigilo funcional e obstrução à investigação policial”.
A Federação Nacional dos Jornalistas já denunciou a arbitrariedade. O blogueiro do Blog da Cidadania tem, por garantia constitucional, o direito de preservar suas fontes.
É surpreendente que, em uma operação em que quase tudo é vazado (geralmente só para atacar um lado, como foi o caso do grampo da conversa de Dilma com Lula), um juiz queira saber quem vazou informações sobre a condução coercitiva de Lula.
Há claramente uma banalização da condução coercitiva. E há, como alertam membros do próprio Judiciário e do Ministério Público, a disseminação de ações contra quem não concorda com os métodos da Lava-Jato.
Anuncia-se esta como a nova etapa da operação. Os alvos agora não serão mais apenas os líderes da esquerda. A pressão contra Guimarães é um recado: recolham suas críticas, porque a Lava-Jato, acima do bem e do mal, é intocável.
Chegamos a um momento perigoso para todos. Espera-se que um país que viveu um longo período de exceção, em que também a Justiça esteve a serviço dos que tudo podiam, saiba reagir aos exageros do Judiciário e do Ministério Público.
E os ditos liberais e a grande imprensa (mesmo a golpista) vão ficar calados?

Moisés Mendes é autor de Todos Querem Ser Mujica, livro de crônicas editado pela Diadorim.

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