O procurador, Jânio e o delator fanfarrão
Quem é ou já foi repórter entende a excitação, a pressa e a atropelação na fala dos delatores pai e filho Odebrecht.
Atormentados querem se livrar logo do que têm a contar, mesmo que contem o que sabem e, no caso dos delatores, o que desejam que os procuradores pensem que sabem.
Os métodos de repórteres e inquisidores não serão nunca os mesmos. Mas um bom inquisidor não é o que arranca do inquirido o que deseja ouvir, mas o que de fato ele tem a dizer. Vale para um bom repórter.
Pois continua repercutindo o discurso do procurador Sergio Bruno Fernandes, que deu uma lição de moral em Emílio Odebrecht (porque sabia que poderia sair no Jornal Nacional).
A lição pela TV é um bom produto para o marketing da Lava-Jato. Mas pode ser péssimo como exemplo de conduta do Ministério Público diante de um delator fanfarrão.
Repórteres, policiais, procuradores, juízes – todos os que têm a missão de ouvir não podem cometer o erro, no embalo da hora e da fama, de tentar imitar a retórica dos políticos que pretendem denunciar, processar, julgar e condenar.
Eu pelo menos não tenho nenhum interesse em ouvir lições de moral de procuradores que reproduzem o mais raso senso comum e parecem tão excitados quanto os delatores.
Desejo apenas que eles cumpram com sua missão na Lava-Jato, sem a ambição de querer fazer discursos pretensamente memoráveis a cada depoimento de um delator.
Não precisamos de um procurador à la Jânio Quadros a cada vídeo de delação no Jornal Nacional.
Mas aí também não sei se não estou pedindo sobriedade demais de um Ministério Público performático e exibicionista.
“Um Ministério Público perfomático e exibicionista”, tal definição, caro Moisés, não deixa dúvidas do quanto de luzes na mídia eles buscam: opiniam, Pré-julgam sem que os inquéritos tenham sequer iniciados!