O RABINO, O CARDEAL E OS BISPOS NEOPENTECOSTAIS

Uma celebridade religiosa que admite, na velhice, que fumou maconha para experimentar e que roubou gravatas por ‘fraqueza moral’ merece respeito pela grandeza de se oferecer ao olhar dos outros como um humano imperfeito e comum.
Mas Henry Sobel não foi um cara comum, não só porque era vaidoso e egocêntrico. Sobel enfrentou a ditadura, num momento de raros bravos.
Foi assim que ofereceu a Vladimir Herzog um enterro digno, negando-se a sepultar o corpo do jornalista na ala dos judeus suicidas. Sobel foi um dos primeiros a gritar que Herzog havia sido assassinado pelos torturadores que Bolsonaro exalta como heróis.
Nunca tive admiração especial pelo rabino que morreu hoje, porque não chegava a vê-lo, entre as lideranças religiosas, com a estatura de Dom Paulo Evaristo Arns.
Em 2010, no segundo turno da eleição, ele andava de um lado a outro num pavilhão de São Paulo, na festa dos tucanos pela passagem de José Serra ao segundo turno, para enfrentar Dilma Rousseff.
A imagem de Sobel era a do cara assertivo, de fala impositiva, E o que eu via ali era um sujeito sozinho, olhando para o chão, triste e sem parceria.
Cheguei a pensar em entrevistá-lo, mas vacilei: o que vou perguntar a esse homem atormentado que já não tenha sido perguntado? Três anos antes ele havia furtado as gravatas em uma loja de Palm Beach.
Na Era Bolsonarista, o Sobel morto até parece maior do que era. Ele, Dom Paulo e outros líderes religiosos foram ‘substituídos’ pelo poder dos bispos neopentecostais.

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