Os jardins irão florir?

Tudo o que deveria ser dito sobre o golpe que derrubou Dilma e sobre a caçada a Lula já foi repetido à exaustão. Tudo o que se disser a respeito do primeiro processo contra Lula (desde as acusações do Ministério Público, o julgamento em Curitiba, o julgamento recorde em Porto Alegre e o encarceramento) terá sido repetido.

Ninguém conseguirá dizer nada de novo sobre a caçada a Dilma e a Lula, sobre a impunidade dos tucanos, as manobras com o Supremo e com tudo, o desgoverno do jaburu e do Quadrilhão.

Tudo já foi dito sobre o engajamento da imprensa à perseguição.
Mas continuaremos repetindo o que todos já disseram. Eu mesmo posso escrever daqui a alguns dias sobre as desilusões da classe média, o desinteresse dos estudantes e os mistérios da resignação. E estarei tratando do que eu já tratei, do que todos já tratamos.

Qualquer texto sobre política que eu for ler agora, em algum site de jornal, blog ou aqui no FaceBook, será sobre algo que li há pouco tempo ou com conexão com o que já aconteceu.

Não há mais nem novas abordagens possíveis. Repete-se a reflexão sobre o golpe e seus desdobramentos.

E por que escrevemos sobre o que já foi escrito? Porque não podemos deixar de refletir sobre o que enfrentamos. Não vamos deixar de pensar e falar em voz alta. Não podemos permitir que o esquecimento nos condene ao silêncio total.

Tudo o que a direita quer é que paremos de pensar sobre o golpe. Vamos continuar nos repetindo. Faremos o que as resistências históricas fizeram em regimes de exceção. Como aconteceu na Itália.

Há algum tempo li um texto de Umberto Eco em que ele conta como os italianos resistiram ao fascismo. Eco lembra que era criança, nos anos 40, e ouvia rádio para entender o que se passava.

Durante muito tempo, só o que ele entendia eram mensagens enviadas de Londres sempre com as mesmas frases: o sol ainda brilha, os jardins ainda vão florir.

As mensagens dirigidas aos resistentes se repetiam, mas mantinham a Itália acordada e esperançosa diante do domínio de fascistas e nazistas.

É o que podemos fazer hoje, mas sempre prestando atenção a um detalhe que ainda comove os italianos. Eles ergueram trincheiras de resistência e enfrentaram Hitler e Mussolini do jeito que deu.

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