Os óculos

O jornalista Mário Marcos de Souza, comentarista do SporTV, é quem narra a história de hoje do Porta na Cara. É uma clássica lembrança de infância, com a clássica guria dos cabelos longos.

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OS ÓCULOS

Mário Marcos de Souza

Quando vi aqueles óculos debaixo do banco da frente do ônibus que me levaria ao ginásio, logo imaginei lá na ingenuidade dos meus 11 anos que tinha descoberto a chave (na época, estávamos muito distantes do tempo das senhas) para um novo mundo.

Sabia a quem pertenciam.

Eles estavam sempre no rosto daquela moreninha de cabelos lisos e compridos, que andava com o balançar seguro e superior de quem era admirada.

Encontrar os óculos, portanto, e ter o privilégio de entregar em mãos daquela primeira paixão de criança, receber um olhar agradecido em troca e, quem sabe?, romper com a barreira da indiferença, me fez sonhar o tempo todo, na curta viagem entre o centro da Criciúma dos anos 50 e o morro onde ficava o prédio antigo do colégio Madre Teresa Michel.

Quando desci, corri logo para o corredor onde os alunos aguardavam a sineta da chamada e passei a procurar a menina dos cabelos compridos.

Ela estava lá, conversando com algumas amigas, segura como habitualmente era.

Aproximei-me, balbuciei (ou tremi) alguma palavra e estendi a mão com os óculos. Me achava o herói do momento.

Foi tudo muito rápido. Ela se virou, pegou os óculos sem me encarar e, imediatamente, virou-se e seguiu na conversa com as amigas.

Rápido e frio assim.

Eu esperava ao menos um prosaico obrigado.

Recebi indiferença. Minha primeira paixão terminou em rejeição.

 

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