OS TRÊS HOMENS

Que bom ir dormir pensando no desfecho daquela cena que todos nós vimos hoje durante o dia por várias vezes.
Aqueles dois homens que entram numa picape (sabe-se agora que era uma picape) e ficam andando de um lado pra outro, pra frente e pra trás, sem saber para onde fugir quando estoura a barragem de Brumadinho.
E aquele outro homem (sabe-se agora que era um só) numa retroescavadeira, que dispara do centro, ali do pé da barragem em direção ao extremo onde os outros dois parecem estar num redemoinho sem saber que caminho seguir, enquanto a lama avança e vagões de trens são jogados para cima deles.
Todos nós passamos o dia pensando na morte terrível daqueles homens. E sabe-se agora que eles se salvaram. Os três. E que os dois da picape ajudaram no salvamento do colega da retro.
Como? Eles vão dizer que foi porque não desistiram, ou porque continuaram andando e não ficaram parados, ou talvez porque tenham andado em círculos.
Morreram quase 400 pessoas. Aqueles três se salvaram. Admirar esse milagre é desfrutar um pouco de nosso momento Paulo Coelho, nesses tempos em que a sensação geral é de que agora só o improvável nos salva.
É possível salvar-se, quando todos acham que não há mais como.
Essa é a história desses três homens, que passa a ser recontada por um recorte de vida de menos de minuto. Quem quiser, que não se emocione.

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