Poesia na masmorra
Imagine que se cumpra o desejo do procurador Rodrigo Janot, e Cunha, Renan Calheiros, Jucá e Sarney fiquem na mesma cela e passem o dia entreolhando-se para saber quem será o primeiro a delatar o outro.
De repente, Sarney, articulado com o juiz Sergio Moro, que adora literatura, começa a declamar seus poemas.
Não há quem aguente o pau-de-arara dos poemas do Sarney na masmorra de Curitiba. A poesia sarneiseana pode ser usada na tática da delação.
Tente imaginar Sarney lendo este poema:
Uma noite
dormiu
dentro de mim.
Mil demônios
balançando-a para lá e para cá,
a rede de linha de seda.
Ela sorria
com o odor
do cio.
—
Não sei se devia andar
a dizer ou recitar
acalantos.
Não quero
mais o canto do adormecer.
Quero entregar-me
para ser visto e amado, num banquete
das saudades que fugiram
ou
morreram.
—
Pensar-te navio que se afogou
na Praia Grande.
Teus mares
são terras de França
para onde
Maria de Médicis
mandou caravelas
para os domínios destas paisagens
onde o nome de São Luís foi dado
para dizer Maranhão:
mar e paixão.