VIZINHOS, ARMAS E PIPOCAS

Vamos imaginar Sergio Moro tentando explicar aos agentes do FBI em Washington (dizem que ele terá encontro com os homens) como o maior traficante de armas do Brasil era vizinho do presidente da República. Não vizinhos de rua, mas do mesmo condomínio de luxo.

O traficante e matador de aluguel era vizinho de Bolsonaro e investigava na internet a vida de um professor desafeto do filho de Bolsonaro. Mas tudo por acaso.

Mas acasos são acasos. Contam que certa vez, nos anos 80, acharam um pipoqueiro vizinho de Lula em São Bernardo do Campo. Soube-se que o pipoqueiro havia juntado um dinheirinho e comprara o apartamento simples ao lado do apartamento de onde Lula e Marisa Letícia moravam.

O pipoqueiro disse ter ficado sabendo do imóvel à venda e pensou que poderia, quem sabe, ser vizinho do líder metalúrgico e depois deputado Constituinte. Era admirador de Lula e, depois que foi morar ali, Lula disse que o reconhecia como vizinho. Um sabia quem o outro era.

Agora, imaginem se forem fazer a mesma pergunta a Ronnie Lessa, o ex-sargento miliciano traficante de armas acusado de ter matado Marielle.

O que ele dirá sobre o fato de que foi morar, como inquilino, há três anos no condomínio da Barra numa casa a poucos metros da casa de Bolsonaro?

Ele pode dizer que não sabia que Bolsonaro morava ali naquelas casas da Barra da Tijuca. Que nem sabia quem era Bolsonaro. Que Bolsonaro não sabia que ele iria morar ali porque nem sabia quem ele era. Que a Barra tem menos de cem condomínios de luxo e que coincidências acontecem.

A vida é assim. Seu vizinho pode ser um pipoqueiro, que sabe quem você é e você sabe que ele existe, ou pode ser um matador de aluguel e traficante de armas, que não sabe que você existe, assim como você não sabe nada dele.

Armas e pipocas. Por coincidência, as duas estouram, mas só uma corrompe e mata.

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