Votar é preciso
O debate sobre o voto nulo nos empurrou um pouco mais pra frente em relação aos confrontos da política em 2016. Constata-se que pelo menos as coisas deixaram de ser óbvias e categóricas como vinham sendo.
Temos nuances, subjetividades, sombras, claros e escuros até entre pessoas com alguma afinidade em questões essenciais. Gente que admiro, e admiro muito, defendeu com valentia o voto nulo em Porto Alegre.
E conhecidos dos quais eu não esperava tal posição se entrincheiraram ao lado dos que pregam o voto em Sebastião Melo como forma de evitar o homem que anda e o tipo de direita que ele representa. Eu estou com eles, com os que votarão em Melo.
Mas o que importa é que o debate abre caminho para outras discussões francas mais adiante. Depois da tragédia do primeiro turno, a controvérsia do voto nulo começa a derrubar o biombo dos grandes dilemas das esquerdas. O voto no segundo turno é o primeiro de todos eles. Os outros temas estão por aí nos ventos da primavera.
Alguns já começam a dizer que as esquerdas terão pelo menos duas décadas para decidir o que fazer, enquanto a direita toma conta de tudo, inclusive da prefeitura de Porto Alegre.
E daqui a duas décadas é provável até que as esquerdas estejam no mesmo lugar, fracionadas, dispersas em agrupamentos quase tribais, até chegarem de novo ao poder e serem de novo golpeadas.
Para muitos, a prioridade hoje talvez nem seja a reconstrução de um projeto de esquerda, mas o fortalecimento de forças capazes de neutralizar novos golpes. Um conjunto de defesas para a democracia, para muito além dos partidos, que consiga enfrentar o que aconteceu este ano, quando as instituições foram tomadas com assombrosa naturalidade pelos líderes golpistas civis, seus prepostos e seus cúmplices.
Podemos ter o direito de imaginar que construiremos resistências (incluindo os liberais autênticos, não os falsos ‘liberais’ reacionários) aos avanços do grande fascismo explicitado e também do fascismo miúdo, dissimulado, oportunista, que passou a frequentar bairros onde nunca esteve, que promete dar aqui o que subtrai em Brasília e que pisoteia a todo momento a democracia, enquanto a exalta com ironia e cinismo.
Imagino um dique de cidadania que nos coloque no mesmo patamar de países nos quais ninguém precisa dizer: daqui vocês não passam. Porque não passam mesmo.
Por enquanto, o que posso fazer é votar.
Você também pode simplesmente nao ir votar e mandar seu recado através da abstenção, mostrando que nao rejeita somente os candidatos, mas o imundo jogo eleitoral todo, com suas regras tortas e resultados manipuláveis. É muita inocencia – pra dizer o mínimo – achar que pmdb tem algum “vantagem” sobre psdb. Estão claramente unidos no engodo, e a unica maneira de contesta-los é nao validando essa escolha entre vampiros: Nao va votar, falte. Simples assim.