OS EMPRESÁRIOS E O JOGRAL DE HIENAS LIDERADAS POR BOLSONARO

A elite alemã resistiu por um bom tempo até aceitar que Hitler era o cara. Os relatos do pós-guerra contam que parte desse apoio, no começo, era constrangido e quase camuflado. 

Grandes empresários sabiam que aquele era um bandido, mas aderiram ao projeto porque ganhariam muito dinheiro com o nazismo e a guerra. E ainda seriam bajulados. 

Hitler chamava ou era chamado pelos líderes da indústria para reuniões fechadas. Ali anunciava seus planos, sempre com o apelo do combate aos comunistas, aos judeus e aos trabalhadores organizados. A elite amoral foi parte decisiva do nazismo, como ocorreu na ditadura no Brasil. 

Bolsonaro também é chamado por empresários para reuniões fechadas, sem acesso da imprensa, porque essa é a característica do colaboracionismo das elites em tempos de anormalidades. 

Foi o que aconteceu nesta quarta-feira num almoço com empresários no Rio. Ninguém além dos ricaços (ou que se acham ricos) que estavam ali poderia chegar perto de Bolsonaro e dos seus anfitriões na hora do almoço.

Os jornalistas poderiam ver e ouvir o discurso, na TV de uma sala ao lado, mas não podiam ver os tapinhas nas costas. Podiam ouvir as gargalhadas, quando Bolsonaro disse que Lula é um bêbado com nove dedos, mas não podiam ver quem gargalhava.

Os jornalistas puderam ouvir um “não” de torcida organizada, quando Bolsonaro perguntou se as decisões do Supremo devem ser cumpridas. Mas não dava para ver na sala ao lado a cara de quem aplaudia Bolsonaro enquanto ele atacava Edson Fachin e o STF.

Sempre foi assim nos regimes de exceção. O déspota de plantão se reúne com seus apoiadores a portas fechadas, para que possíveis constrangimentos não sejam testemunhados. Que os convivas sejam o que são, sem observadores. 

No momento em que radicaliza seus ataques às instituições, Bolsonaro vai a todo tipo de manifestação, de motociatas a reuniões-almoço, com turmas que agrupam milicianos, militares, grileiros, banqueiros, sonegadores, golpistas, mamadores em orçamentos secretos, escravagistas.

Por que um almoço do presidente da República com empresários acontece a portas fechadas, se esse tipo de evento, com esse formato, era exceção até na ditadura? Porque há momentos que não podem ser captados.

A cumplicidade requer a preservação de intimidades. Na Alemanha nazista, grandes grupos ofereceram suporte a Hitler, incluindo os sempre citados IBM, Siemens, Krupp, Oetker, Volkswagen e também pequenas empresas que queriam fazer média com o nazismo.

Algumas dessas empresas ajudaram diretamente no plano de eliminação de judeus. Todos participavam de reuniões fechadas com Hitler ou com seus prepostos. O nazismo avançou com o apoio da elite econômica, mesmo que muitos não mostrassem a cara, como aconteceu no Rio.

Hoje, quando consumimos um fermento da Oetker ou subimos num elevador da Krupp, depois associada à Thyssen, devemos saber que as marcas estiveram em algum momento ao lado do nazismo. 

Não há como apagar essa memória, para que a História não se repita. As reparações feitas pela Justiça são importantes, mas insuficientes.

Nós todos sabemos, inclusive o Ministério Público, todo o Judiciário, o Supremo e as instituições da República, que empresários aliados declarados de Bolsonaro são colaboracionistas de um sujeito investigado e processado por crimes graves. Sabem que Bolsonaro é visto internacionalmente como genocida.

Quem ri dos ataques de Bolsonaro ao Supremo talvez se comporte pior do que os alemães que se reuniam com Hitler. E muito pior do que os empresários que se encontravam com os mandaletes civis dos militares no Brasil. Porque Hitler e os generais tentavam transmitir um ar de seriedade às suas crueldades.

Bolsonaro, não. Bolsonaro exala chinelagem. Debocha dos mortos pela pandemia, da ciência, da vacina, da democracia, das instituições. A tirania de Bolsonaro está associada ao que existe de mais repulsivo e bagaceiro.

Pois os cúmplices de Hitler sabiam que eram aliados de um assassino poderoso. A elite brasileira cúmplice de Bolsonaro, que ri da barbárie, sabe que se acumpliciou com um miliciano. 

A elite bolsonarista sabe que integra um jogral de hienas ao redor de um ogro desesperado.

One thought on “OS EMPRESÁRIOS E O JOGRAL DE HIENAS LIDERADAS POR BOLSONARO

  1. Não há dúvida que a elite neocolonial brasileira não aceita mais o Lula. Uma ínfima minoria até engole o sapo barbudo. Porém, no geral, o ódio de classe prevalece sobre o bom senso ou qualquer racionalidade. Os recentes movimentos contra as pesquisas da XP, a bajulação dos militares pelo CEO do Bradesco, os aplausos no encontro com empresários deixam isso bem claro.
    A maioria deles, diante do fiasco de uma terceira via, prefere seguir com Bolsonaro.
    Essa escolha da turma da Casagrande, somada ao apoio popular de uma significativa parte da classe media branca, dá sim base para um golpe. A capitulação das FFAA não será uma surpresa. Alimentam o caos para uma intervenção militar que recoloque o país em “ordem”, mas com outro cenário político.
    Porém um golpe deste tipo exigiria um aval ou aquiescência do Tio Sam.
    Acuado na nova ordem mundial, OS EUA não vão querer abrir mão do que consideram o seu quintal. Não querem o Lula, pois isso pode significar a retomada de um projeto soberano de desenvolvimento, além do fortalecimento do BRICS. Eles querem um governo aliado ou submisso.
    Bolsonaro, por um lado, é funcional. Garante o prosseguimento de uma agenda neoliberal que nos condena a uma irrelevância no cenário mundial que muito lhes convém. Por outro lado, ele não é submisso aos EUA; é submisso ao Trump e aos republicanos. Compromete a imagem de democracia, defesa do meio ambiente e dos direitos humanos de fachada dos democratas. Tio Sam também quer uma terceira via. E pode, sim, concordar com um golpe de curta duração. Mas apenas pra limpar o terreno para eleições que ocorram sem os dois indesejáveis.
    Os dados ainda estão rolando.

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