A ADVOGADA QUE MOSTROU A CARA DO NAZISMO BRASILEIRO
A CPI terá que chegar a todas as conexões e redes dos campos de extermínio que usavam cloroquina, para que o caso da Prevent não seja considerado único. Porque se sabe que certamente não é o único.
Os donos e diretores da Prevent atuavam com cúmplices poderosos dentro e fora do governo. Mas quantas outras Prevent existiram ou ainda existem no país?
Quem ganhou dinheiro com a disseminação de cloroquina e com hospitais que se transformaram em campos de extermínio do tratamento precoce de Bolsonaro?
O bolsonarismo fomentou, incentivando e patrocinando os experimentos com a cloroquina e outros remédios milagrosos, a versão brasileira do nazismo do século 21. Quem ganhou com isso?
A Prevent é apenas parte da estrutura montada para que a velhice fosse tratada como um estorvo.
A advogada Bruna Morato fez um apelo ontem na CPI do Genocídio:
“É preciso que as famílias apareçam”.
Os parentes de pessoas mortas depois de passarem pelos experimentos, não só na Prevent, devem contar o que sabem.
Por iniciativa do senador Alessandro Vieira, a CPI abrirá um canal de comunicação com quem tem algo a dizer. Não se sabe ainda como isso funcionará.
O que se sabe é que pelo menos 12 médicos, representados pela advogada, já contribuíram com relatos assustadores. Eles contaram a Bruna Morato como tudo funcionava, com conexões da clínica com o governo, nas áreas da Saúde e da Fazenda.
A cloroquina seria, para a clínica, uma tentativa de conter as internações. E para o governo era a chance de propagar pelo mundo que Bolsonaro havia descoberto a cura para a Covid-19.
A advogada repetiu uma frase que era ouvida na clínica: “Óbito também é alta”. Uma morte abria vagas.
Apesar do esforço da advogada para esclarecer a estrutura de funcionamento do esquema criminoso, o jornalismo às vezes contribui na direção contrária.
A jornalista Natuza Nery, da Globo News, repetiu pelo menos duas vezes em comentários ontem que a clínica buscava uma solução na cloroquina para não quebrar.
A Prevent não quebraria por causa dos idosos que tinha que acolher. Poderia, se não provocasse tantas mortes, ter de recorrer a outros hospitais.
A pandemia foi, no seu começo, uma tragédia mundial com idosos, em toda parte. É uma característica que ainda prevalece.
A Prevent não quebraria, porque a Covid não quebrou hospitais e planos privados em lugar algum.
A Covid levou o caos, como aconteceu em Manaus, a hospitais da rede pública, por ação deliberada e criminosa do governo.
Dizer que um grupo privado poderia quebrar por causa dos idosos internados é arranjar um atenuante para uma organização que faturou R$ 4,3 bilhões no ano passado, com um lucro de R$ 496 milhões.
Falar em falência é mais do que desinformação. É cumplicidade ingênua com um argumento que pode interessar aos que procuram um perdão para a Prevent.
O que pode quebrar agora a Prevent são as ações por reparação dos familiares de pessoas submetidas aos experimentos bolsonaristas.