A ALIENAÇÃO E OS ISENTÕES FOFOS DO FUTEBOL
O comentarista Caio Ribeiro é o Nelson Teich do futebol. Parece estar dizendo algo muito profundo, com voz empostada, mas não diz nada com nada.
Caio é o chuchu dos comentaristas e por isso mesmo, pelo que dizem as pesquisas, é admirado pelos jogadores.
Caio não critica ninguém, para ficar bem com craques e pernas de pau, mas decidiu atacar Raí, porque o ex-jogador e diretor do São Paulo rejeita a proposta criminosa da volta dos jogos de futebol em meio à pandemia.
Raí chegou a dizer que o bom seria se Bolsonaro renunciasse para não continuar cometendo tanta irresponsabilidade.
Caio acha que o futebol é um reduto de neutralidades e que Raí não deve se meter em política. Só ele, Caio, pode defender Bolsonaro de forma dissimulada.
Caio é exemplo da conexão entre falsos isentos e a alienação no futebol, o esporte do povo que correu o povo dos estádios.
O esporte que é visto apenas por ricos e pela classe média com dinheiro para pagar TV por assinatura. O futebol ficou caro e foi tomado pelo espírito do bolsonarismo.
Para tipos do perfil de Caio não basta bancar o isentão no futebol. Esses caras fingem ser isentões também na política.
É o tipo que se multiplicou a partir do golpe de 2016. Não é o pretensamente isento que fica calado, e que por isso mesmo não é isento, mas o isentão que de repente fica professoral.
Caio não é um Renato ou um Felipão, que assumem abertamente o que pensam como vozes da extrema direita. Mas todos eles são a cara do futebol brasileiro emburrecido, medíocre, decadente.
O que o futebol precisa, e Raí sabe disso porque seu irmão Sócrates soube muito antes, é de politização.
Os esportes precisam ser politizados, como acontece na Europa, para que figuras como Caio Ribeiro não prosperem sozinhas como exemplos de celebridades ‘neutras’.
O futebol tem que combater racismo, desigualdade social, todo tipo de preconceito, ódio e violência, como fazem os jogadores chilenos. Só a militância pelas liberdades pode se contrapor aos fofos isentões.
Ainda bem que temos um Raí, um Casagrande e um Luxemburgo, que n~]ao ficam calados.
Também é esdrúxulo ler e ouvir jornalistas do futebol que continuam falando do reserva do lateral Vasco, enquanto o futebol está parado e o país caminha para uma tragédia.
Falar de futebol agora não tem nada de vida real. Não vale nem a desculpa de que a vida segue e é preciso falar também da paixão, do lúdico e do irrelevante. A vida não segue, não.
Jornalista de futebol tinha que ser escalado para cobrir o drama dos brasileiros nas filas da Caixa, nos hospitais, nos cemitérios.
O jornalismo que parece ignorar o ambiente de desolação e horror para falar de futilidades é inútil e ofensivo com os dramas coletivos dos mais pobres e vulneráveis à peste.
Basta de incentivar a resignação e a imbecilização numa área que nem notícia consegue produzir. Hoje, não há informação sobre futebol. Há mais alienação.