A barbárie e o sono profundo das instituições

Leia estes relatos: “Conforme D3 declara em seu depoimento, fora “puxada pelos peitos” pelo “Pol2” que, além de identificado pelo nome no uniforme, foi por ela descrito como pessoa de “rosto meio quadrado, nariz grande, muito pálido, olhos escuros e usava boina”. Esse fato também foi referido em outros depoimentos, que também sempre referiram que D3, além de ser pega pelos seios também recebeu jato de spray diretamente na boca, como relataram D8, que disse “a (D3) estava como os peitos roxos e jogaram spray de pimenta na boca…”. Assim também D10, D11, bem como (nome protegido). No mesmo sentido, (nome protegido) relatou que D3 fora “assediada, pega pelos peitos”. Agrega-se que a depoente, em contato preliminar com esta Relatoria, ainda nas dependências do DECA junto com as e os demais detidas e detidos, fez referência, já naquela oportunidade, tanto da “agressão” nos seios como ter sido também submetida a spray de pimenta diretamente na boca, o que foi confirmado por algumas alunas que estavam presenciando esse primeiro contato”.
Este é um trecho de relatos de violência contra adolescentes, que constam do Relatório sobre a Desocupação da Secretaria da Fazenda do Rio Grande do Sul, comandada há um ano pela Brigada Militar.
O relatório foi produzido pelo Comitê Estadual contra a Tortura e apresentado hoje pela manhã. O documento trata da operação da BM para retirar à força um grupo de estudantes de ensino médio de escolas públicas (a grande maioria adolescentes) que havia ocupado o prédio.
Os depoimentos dos estudantes, que ocuparam a Secretaria mobilizados por um gesto político de defesa da educação, mostram como foi um dos tantos episódios capazes de comprovar a definição do procurador federal Domingos Silveira, presente ao evento de hoje na sede da Procuradoria Regional da República da 4ª Região. Disse Silveira: “Vivemos hoje um estado de barbárie”.
Violência semelhante ocorreu quando da ação da BM no prédio do Estado ocupado pelos Lanceiros Negros. Outras acontecem em áreas não centrais, longe de testemunhas.
Leiam o relatório. Ainda bem que contamos com a vigilância dos que ouvem as vítimas de violência exercida por agentes do Estado e elaboram documentos com esta contundência.
E as instituições? As instituições, com as exceções de sempre, saberão lidar com denúncias deste porte, quando despertarem do sono profundo do Boa Noite Cinderela a que se submeteram muito antes do golpe. O golpe apenas aumentou a dosagem.
O relatório, assustador, está neste link.

https://medium.com/comite-estadual-contra-a-tortura/comit%C3%AA-estadual-contra-tortura-divulga-relat%C3%B3rio-sobre-a-desocupa%C3%A7%C3%A3o-da-sefaz-2bd6f882be4e

 

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