BOLSONARO CAMINHA PARA A SUA BATALHA DE ITARARÉ

Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly é o pai do humor político no Brasil. Muito do que se faz ainda hoje na tentativa de esculachar com os personagens dos pântanos de Brasília tem inspiração no que ele fazia sempre com muito anarquismo.

Pois Apparicio Torelly (foto) talvez não fosse o que acabou sendo se não tivesse se tornado o Barão do Itararé. Seria apenas Apparicio.

Hoje, poucos o conhecem pelo nome. A maioria sabe dele porque era barão. O único barão capaz de concorrer com o de Itararé em fama e prestígio foi o Barão de Mauá.

A famosa história do título do humorista gaúcho (uns dizem que não nasceu na cidade de Rio Grande, que seria uruguaio), o criador do jornal A Manha, em 1925, é única.

Quando Getúlio Vargas partiu de trem do Rio Grande do Sul em direção ao Rio, no que viria a ser a Revolução de 30, espalhou-se por toda parte que o Brasil assistiria em São Paulo a uma batalha sangrenta.

A mais célebre de muitas batalhas esparsas, de tão anunciada, foi a Batalha de Itararé, que colocaria em confronto as tropas do presidente Washington Luís e os que se aliaram a Getúlio.

A Batalha de Itararé aconteceria, claro, em Itararé, um município de São Paulo. Torelly tirou muito sarro da tal batalha sangrenta. Mas a Batalha de Itararé nunca existiu.

Os grupos ligados a Washington Luís estavam blefando. Não havia como resistir. Não aconteceu a Batalha de Itararé porque houve um acordo para que Washington Luís entregasse o poder sem resistência.

Como a batalha foi abortada por barganhas, Torelly concluiu que todo mundo ganhou alguma coisa para se acomodar politicamente. E ele, tão entusiasmado com o que seria a batalha, havia ficado sem nada.

O humorista decidiu então dar a si mesmo alguma coisa e se autointitulou Barão de Itararé, aos 35 anos, depois de chegar a pensar em ser um duque, um título ainda mais importante. Barão era mais sonoro.

O Barão de Itararé foi comunista, foi preso, foi torturado e sempre resistiu com humor, inclusive às arbitrariedades cometidas por Getúlio contra os deboches do seu jornal. Morreu em 1971 com 76 anos.

O que ele poderia nos dizer hoje é que, de tanto blefar com o golpe, Bolsonaro pode na verdade estar construindo a sua Batalha de Itararé. O Bolsonaro acuado hoje é o Washington Luís sem poder algum de 1930.

O golpe de Bolsonaro é um embate do sujeito contra o Supremo, contra a democracia e contra o seu destino, e é bem provável que a grande batalha do golpe fique no blefe. O 7 de setembro tem todos os componentes para ser grandioso e também para não ser nada no golpe que teima em não acontecer.

Bolsonaro talvez seja obrigado a entregar, não agora, mas daqui a pouco, o que ainda tem, para não perder o que pode ser salvo, mesmo que seja muito pouco. Esse pode ficar para a História como o Golpe de Itararé.

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