A CALDAS JÚNIOR DO VÉIO BRENO E DE EDIR MACEDO

Tem muita gente dizendo, a respeito da demissão do Juremir Machado do Correio do Povo, que ele sabia muito bem onde trabalhava. Claro que sabia.

Dizem que o Correio é um jornal ultraconservador e que a imprensa em geral é conservadora. Todos são, em Cacequi ou em Londres, com as exceções de sempre de fora das corporações.

Mas assim é a vida do jornalista. Poucos profissionais conseguem trabalhar fora da grande imprensa, mesmo com as mudanças no modelo de negócio, nas tecnologias e no formato do que virá a ser o jornalismo do século 21.

Sempre foi assim o ambiente das grandes redações, inclusive durante a ditadura, com particularidades interessantes.

O paraense Lucio Flavio Pinto, um dos grandes jornalistas ambientalistas brasileiros, talvez o maior de todos, trabalhava na ditadura para o Estadão e escrevia para os jornais de esquerda Opinião e Movimento.

Vladimir Herzog, assassinado pelos torturadores a serviço dos ditadores, trabalhava na TV Cultura.

Muitos outros faziam jornada dupla, e seus chefes fingiam que não viam. Não foram poucos os que conseguiram contrabandear pautas contra a ditadura para dentro das grandes redações.

Juremir estava há muito tempo nesse meio dominado pelas corporações (agora religiosas), o mesmo, em todos os Estados, que acolheu antes, durante e depois da ditadura, e continua acolhendo, nomes expressivos do jornalismo humanista, progressista e até assumidamente de esquerda.

Mas o Correio do Povo não é um jornal conservador, é um jornal da extrema direita. Conservador era o Correio do Povo de Breno Caldas.
Eu vivi, mesmo que de longe, esse tempo, nos anos 70 e 80. Vou contar uma história rápida e pessoal sobre traumas dessa época, de antes e depois do véio Breno.

Fui correspondente da Caldas Júnior em Ijuí de 1978 até o fim da era Caldas, em 1984. Quando o empresário Renato Ribeiro comprou a Caldas Júnior quebrada, em 1985, muita gente da velha Caldas foi recontratada. Inclusive todos os correspondentes. Era um baita time de mais de 30 jornalistas, sem contar as sucursais das grandes cidades.

Eu fui avisado da recontratação e alguns dias depois fui desavisado. Por quê? Porque eu havia sido um dos grevistas de 1983 que recorreram à Justiça para receber atrasados e fechar as contas. Era o pretexto. Mas e os outros grevistas recontratados?

Eu era repórter “A” da Caldas. Cheguei ao topo com muito esforço e reconhecimento da Central do Interior. Eu me dedicava ao que fazia com suor e sofrimento. Ralei muito, mas aquele foi o tempo em que mais amei o jornalismo.

Trabalhava sábado e domingo, produzia reportagens especiais, copidescava textos para consolidar matérias de vários correspondentes, sapateava, dançava e ainda assobiava.

Mas eu era um maldito em Ijuí pela relação complicada com a direita da cidade durante a ditadura. O saudoso desembargador Tupinambá Pinto de Azevedo, promotor na época, também era outro maldito odiado pela direita. Enfrentamos batalhas e guerras com bodoques contra bazucas.

Quando descobri que todos os correspondentes haviam sido recontratados, menos eu, avisado e desavisado, procurei saber o que havia acontecido.

Eu estava fora porque não me queriam escrevendo sobre o que eles não queriam ler. E tenho certeza de que estava no meu melhor momento aos 32 anos.

A Arena da cidade já havia tentado me derrubar várias vezes, com duas tentativas fracassadas de processos. O advogado Ben-Hur Lenz César Mafra me defendia. A direita não não me queria mais como correspondente. E conseguiu.

No tempo de Breno Caldas, algumas vezes tive de me defender do assédio dessa turma, enviando contestações que eram encaminhadas pela Central do Interior ao próprio Breno, como aconteceu na campanha pela eleição de 1982 ao governo do Estado.

Um chefete da área comercial me detestava e me perseguia, porque, dizia ele, eu atrapalhava seus negócios na cidade abordando temas que incomodavam a direita. A cidade não queria saber dos seus rolos.
Pois Breno Caldas era informado sobre o que acontecia com seus jornalistas e me segurou até quebrar. Sei de outros que não tiveram a mesma sorte.

Renato Ribeiro não quis nem me experimentar. Foi por ter sido barrado pela Caldas Júnior de Renato Ribeiro que decidi me mudar para Porto Alegre em 1986 e aqui estou.

A Caldas Júnior sob controle de Edir Macedo e dos bispos da Universal desde 2007 não tem conexão alguma com a Caldas do véio Breno, que era conservador e foi apoiador da ditadura, como foram todos os donos de empresas de comunicação.

Mas o véio vendia apenas metade da alma. Quando tentou salvar a outra metade e saltar fora do esquema que sempre apoiou, se deu mal e quebrou.

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Dedico este texto aos meus companheiros de Central do Interior da Caldas Júnior, nos anos 70 e 80, quando tínhamos certeza de que iríamos vencer a ditadura. Peço desculpas aos que não aparecem nesse grupo, por culpa da minha memória:

Rejane Fernandes, Jairo Ferreira, Vera Rotta, Mário Fengler, Vera Flores, Antonio Carlos Macedo, Antônio Britto, Cleiton Selistre, Marco Antônio Baggio, Heloisa Kirsch, João Bosco Vaz, Nazaré Almeida, Marcelo Matte, Clovis Heberle, Joabel Pereira, Isac Feijó, Alair Almeida, Ana Maria Barros Pinto, Juarez Lemos, Elmo Loeblein, Juraci Jaques, Tania Krütska, Vitor Paz…

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