A conversa de compadres e comadres com o marqueteiro da direita

Fica difícil dizer o que foi o pior da entrevista de Duda Lima, marqueteiro de Bolsonaro em 2022 e de Ricardo Nunes esse ano, nessa segunda-feira no Roda Viva, se o entrevistado ou a bancada de jornalistas.

Mesmo assim, o sujeito nos ajudou a entender o que é a política hoje sob o ponto de vista de quem ajuda a formatar figuras da extrema direita.

É um cara estranho, com uma conversa estranha e simplória sobre a ‘potencialização’ das virtudes dos políticos. Em Bolsonaro, por exemplo, a autenticidade.

Teve um certo companheirismo e até uma certa intimidade dos jornalistas com o homem. Não foi uma entrevista, mas uma conversa de compadres e comadres sobre a teologia da enganação. Só teve enrolação.

Estavam na bancada Gabriela Rangel, da rádio CBN; Samuel Lima, do Globo; Guilherme Amado (sem veículo); Priscila Camazano, da TV Folha; e Thais Bilenky, colunista do UOL.

Por que aquele tom excessivamente respeitoso, com Duda pra cá, Duda pra lá? Guilherme Amado tentou apertá-lo, por ter feito o marketing de Bolsonaro (que lembrou ser racista, misógino, negacionista e armamentista), mas o marqueteiro fugiu da pergunta sobre limites nesse tipo de trabalho com esse tipo de gente.

Duda Lima não é coadjuvante, é personagem importante da crise ética e moral da política brasileira. É um formulador de atitudes e discursos. Mas foi tudo muito raso na entrevista. E a bancada parecia temer o indivíduo.

O empresário contou que virou marqueteiro porque, como farmacêutico em Mogi das Cruzes, era um grande vendedor de produtos ortomoleculares e foi descoberto por um laboratório (eu não compraria uma aspirina dele).

Guilherme Amado o apresentou, com certa candura, como o marqueteiro que mais sabe bater no PT. Não precisava dizer mais nada sobre suas virtudes.

Vimos um genérico bem básico de Duda Mendonça e João Santana, que ele claramente parece querer imitar. É o nível do marketing político em tempos de ascensão do fascismo.

Não perguntaram nada sobre o fato de 2022 que mais teria impactado no final da campanha de Bolsonaro, a cena de Carla Zambelli correndo com um revólver atrás do jornalista Luan Araújo pelas ruas de São Paulo.

Também não quiseram saber nada da denúncia do hacker Walter Delgatti, feita na CPI do Golpe, de que o publicitário teria proposto a ele o desenvolvimento de uma urna eletrônica para provar, com um código-fonte falso, que seria possível digitar o número de um candidato e a máquina contabilizar o voto em outro. Essa era uma tese de Bolsonaro.

As questões éticas passaram longe da entrevista, e o que mais teve foi pergunta sobre o soco que levou de um assessor de Pablo Marçal.

O jornalismo da grande imprensa e o marketing político estão se equivalendo. Agora só falta entrevistar o marqueteiro do PCC.

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