Como impedir que os golpistas controlem a investigação do golpe
A CPI do Golpe fará com que muitos sintam falta do tempo em que o deputado Onyx Lorenzoni era uma voz forte do antilulismo e da extrema direita em comissões da Câmara. Parecia impossível, mas o nível do extremismo foi rebaixado.
A CPI será instalada na quarta-feira para dar ocupação e palco à ralé do fascismo. Teremos os mais rasos representantes do bolsonarismo, liderados pelo filho Eduardo, no pior momento da pior de todas as composições do Congresso em todos os tempos, incluindo a ditadura.
Na ditadura, os militares escalaram, considerando-se inclusive os senadores biônicos, nomes da elite civil da direita para defender o regime.
Cesar Cals, Tarso Dutra, Murilo Badaró, Jutahy Magalhães, Arnon de Melo e muitos outros, que chegaram ao Senado sem voto no final dos anos 70, seriam sumidades ao lado de figuras eleitas no ano passado pelo bolsonarismo.
Teremos uma comissão mista, com senadores e deputados, e a maior exposição do golpismo que sobreviveu ao fracasso do 8 de janeiro. Mas o golpismo quer exposição.
A extrema direita se reorganiza nas cidades e nas redes sociais, os líderes civis e militares estão livres e soltos (enquanto os manés estão presos ou em casa com tornozeleiras), e a CPI mostrará as unhas dessa gente.
O que aconteceu na CPI da Covid ou do Genocídio, quando muitos investigados e muitas testemunhas enrolaram os senadores, não deveria, mas pode se repetir agora.
O que a base governista fará para que o fascismo não se apodere da comissão e a transforme em cenário para lacrações nas redes sociais? Eis a incógnita.
Nas atuais circunstâncias, a extrema direita está em vantagem, com a disposição de esculhambar com a CPI, enquanto o governo se esforça para montar uma base precária no Congresso.
É um paradoxo, prevendo-se que o golpismo pode tirar melhor proveito de uma investigação sobre a tentativa de golpe. Mas é a realidade.
Serão 16 senadores e 16 deputados. Entre eles, muitos golpistas declarados. O próprio Eduardo Bolsonaro é investigado no Supremo, há muito tempo, no inquérito do gabinete do ódio, por envolvimento em ações criminosas.
O autor do requerimento para criação da CPI, deputado André Fernandes, do PL do Ceará, também é investigado no STF por incitação aos atos de 8 de janeiro.
Fernandes publicou no Twitter a invasão da sala onde fica a toga do ministro Alexandre de Moraes, quando da invasão do STF.
Pois esse sujeito é cotado para ser o presidente da CPI. Um golpista, que afrontou a autoridade do presidente do TSE e debochou do Supremo, pode presidir a comissão que investiga o golpe? Não duvidem.