A DECISÃO DE CELSO DE MELLO
Hoje, Celso de Mello decide sobre o vídeo da famosa reunião do dia 22 de abril. Ontem, o ministro tomou uma decisão que vai incomodar a extrema direita.
Mello enviou pedido à Procuradoria-Geral da República para que Bolsonaro seja ouvido no inquérito sobre o escândalo da Polícia Federal. E que seja feita busca e apreensão dos celulares dele e do filho Carlos.
A PGR tem o poder de decidir se leva adiante o pedido.
São medidas de impacto que se juntam à que ele tomará daqui a pouco sobre a divulgação do vídeo da reunião em que Bolsonaro peita Sergio Moro e ameaça trocar os delegados.
Há uma dúvida. É possível que a divulgação da íntegra do vídeo mais atrapalhe do que ajude, se a atenção for desviada para as baixarias.
Se isso acontecer, o relevante pode se perder no teatro do bolsonarismo, com Weintraub chamando os ministros do STF de filhos da puta e Damares pedindo que prendam os governadores.
Mas há outra leitura possível. O vídeo, se tiver a dimensão ‘dramática’ que dizem ter, no sentido de que expõe o circo de Bolsonaro, pode tirar a atenção do escândalo envolvendo Bolsonaro e a Polícia Federal, mas pode também expor o que é o governo num documento.
Essa reunião pode nos revelar o que todo mundo sabe, mas ainda não se viu. O horror do bolsonarismo como representação artística, como encenação, com mais de 20 sujeitos dizendo e ouvindo bobagens ao mesmo tempo, sob o comando de um alucinado.
Celso de Mello deixa o Supremo em novembro. Em pouco mais de cinco meses, despede-se do STF. Antes, dá o voto decisivo que pode soterrar Sergio Moro para sempre, inclusive politicamente, no processo que trata da suspeição do ex-juiz na Lava-Jato.
É a hora do arremate da sua dimensão histórica para a imagem do Supremo e do Judiciário e para a democracia. Celso de Mello deve ficar maior do que já é, num ambiente de resignações, alianças e acovardamentos.
O ministro sabe que a divulgação do vídeo talvez tenha efeito não só sobre o escândalo da Polícia Federal. E isso talvez não interesse, porque juridicamente não tem relação com o caso em questão. É o que Celso de Mello poderá argumentar.
Celso de Mello é, entre os 11 ministros, o que melhor pode fazer essa avaliação nessas circunstâncias. Todos os outros ou seriam demasiadamente cuidadosos ou seriam impulsivos ou formalistas.
Ontem, além de pedir perícia nos celulares de Bolsonaro e de Flavio, Mello fez uma declaração forte sobre os ataques que a extrema direita dirige aos ministros do STF, agora sob a forma de mensagens enviadas diretamente aos emails.
Referiu-se aos autores das agressões como “bolsonaristas fascistóides, além de covardes e ignorantes”. É forte.
Poderia ter dito que são extremistas, fascistas ou antidemocráticos. Poderia ter sido vago ou genérico na definição dos agressores. Mas foi direto.
São bolsonaristas. E são fascistóides. E também são covardes. E ainda são ignorantes.
Sentiremos muita falta de Celso de Mello.
Fico mergulhado em profundo sentimento de frustração e de incredulidade Quando percebo que as principais Investigações que vem acontecendo no Brasil (marielle e anderson, rachadinha, joesley e temer, listas de beneficiários de empreiteiras, interferência na pf, fake news, Adriano Nóbrega e outras) não têm o desfecho em tempo razoável.
O caso Marielle e anderson já conta quase 800 dias que aconteceu, um absurdo para um sistema judiciário dotado de toda modernidade e discernimento institucional que poderia existir em um país civilizado. Outros casos importantes para passar o país a limpo, como dizem alguns ufanistas esperançosos, em algum momento ou podem cair no esquecimento, como o do tal decreto dos portos envolvendo temer, ou até prescrever.
Nunca tenho a satisfação de, na mesma semana, perceber pelo noticiário, um notável avanço nas investigações daqueles casos, e, infelizmente, a única certeza que tenho é que falta muito ainda, não sei quantas gerações precisaremos, Para este país ser passado a limpo.