A ELEIÇÃO SEM O ESCUDO DE AZEVEDO E SILVA
Não era o que os brasileiros mereciam nessa encruzilhada. A desistência do general Fernando Azevedo e Silva, que não assume mais a direção-geral do Tribunal Superior Eleitoral, pode levar parte das esquerdas a dançar de braços dados com a extrema direita em volta da fogueira ateada pelo bolsonarismo.
Mas não há o que comemorar em nome do fracasso de uma ideia fardada. O TSE conseguiu transformar uma aparente solução num dos grandes problemas às vésperas da eleição.
Foi embora o general que iria, como o tribunal imaginava, nos proteger de quase todas as ameaças à votação e à apuração.
Luis Roberto Barroso, Edson Fachin e Alexandre de Moraes tiveram uma ideia que, depois de exposta, parecia óbvia demais, mesmo que sob protestos dos contrariados. E mesmo que tivesse sido superestimada.
Ninguém dentro das Forças Armadas conhece tanto quanto o general as entranhas do poder. Deve saber o que cada sobrancelha erguida significa, por ter vivido no ambiente que mistura Judiciário, Congresso e governo.
Saiu do governo por não suportar mais os blefes de Bolsonaro e levou junto todos os chefes das três armas. Estaria habilitado a ficar na História como uma boa imitação de um Teixeira Lott do século 21.
Azevedo e Silva seria a garantia de que o TSE saberia por antecipação todos os movimentos que pudessem envolver civis e militares contra as eleições.
O general poderia atuar como o radar e a autoridade capazes de perceber e conter ímpetos golpistas ou mesmo ações do bolsonarismo que tentem esculhambar com a eleição. Ele conhece sua turma.
E agora? A extrema direita pode se excitar e achar que assustou o general, mesmo que a versão oficial seja a de que ele precisa dar atenção ao agravamento de problemas cardíacos. Vamos respeitar essa versão e desejar que o general cuide bem da sua saúde.
Mas os democratas ficam temerosos de que o recado dado, de que o TSE perdeu seu escudo, continue sendo lido da pior forma possível. Azevedo e Silva pode estar dizendo que a bronca é tão grande que prefere repassá-la a outro. Que os civis se virem.
Os próprios colegas militares podem ter recomendado ao ex-companheiro de governo que saltasse fora, porque a situação teria voltado a ficar instável demais.
Seria impossível segurar Bolsonaro, seus ajudantes de ordens e suas milícias. O general sabe mais do que fardados ainda no poder que Bolsonaro se tornará imprevisível (ou nesse caso ainda mais previsível) se perder a eleição ou se, mesmo antes, perceber que não há como vencê-la.
As circunstâncias favorecem essa interpretação. Bolsonaro voltou a fabricar suspeitas contra as urnas, a afrontar o TSE e a jogar os militares contra o tribunal e o Supremo.
Quem topa ser o diretor-geral nesse ambiente? Não há como enxergar um novo Azevedo e Silva, com farda, para substituí-lo no cargo que não chegou a assumir.
O TSE precisaria agora da proteção de alguém com o tamanho de um Nelson Jobim, que até farda já vestiu, mas esse personagem também não existe. Teremos um escolhido a dedo pelos próprios militares?
A solução Azevedo e Silva virou uma arapuca. É um transformer que não funcionou porque nem testado foi.
É possível ter alguém sem farda e sem o respeito das tropas nessa função estratégica que assumiu feições de uma das últimas trincheiras?
É uma bronca gigantesca. Quem pegar a tarefa ficará com a missão de gerir e proteger as engrenagens do processo eleitoral.
É a área que Bolsonaro mais irá atacar, na sanha de desqualificar todo o funcionamento da eleição até a sua apuração.
Se tudo der certo para o TSE, a eleição e a democracia, poucos darão o crédito merecido ao diretor-geral. Se der errado, ele estará com a vida destruída. O Brasil todo estará.
Certamente foi “convencido” pelos pares a não assumir o posto, para deixar o caminho livre. Em breve, será agraciado com uma promoção a marechal.
E tem gente que acredita em milico. Alguém lembra da “garantia” do gen. ASSIS Brasil em 64? Dizia o Ivan Lessa que o Brasil a cada 5 anos esquece o que ocorreu nos últimos 5 anos.