A foto censurada antes de existir

Qualquer fato pode ser documentado hoje em imagem, nas mais variadas circunstâncias e irrelevâncias. No mês passado vi aqui no Facebook a foto de um sujeito trocando o pneu do carro. Tinha, até ali, 243 curtidas e 78 compartilhamentos.
Mas não existe, ou se existe eu não sei procurar, uma foto, uma que seja, de Dilma Rousseff votando em Porto Alegre no domingo. Falei com fotógrafos, com repórteres, com os conhecidos que estavam lá na Escola Santos Dumont, na Assunção.
Nada. Ninguém tinha a foto ou viu a foto. Recorri a editores conhecidos para saber se não existia uma foto feita por um amador e que talvez eu não tivesse visto. Nada.
Encanzinado, fui pesquisar no Google. Tem fotos de Dilma recebendo flores e dando entrevista. Mas nada da foto clássica do momento do voto.
Por quê? Porque um juiz determinou que os jornalistas não poderiam entrar na sala de votação. E aconteceu o tumulto que todo mundo sabe, na porta de acesso à escola, quando os PMs barraram repórteres e fotógrafos.
O Brasil pós-golpe não para de fazer das suas. A presidente eleita pelo voto não aparece votando na primeira eleição após o golpe. O golpe conseguiu no Brasil o que as ditaduras do mundo todo só conseguiam em laboratórios. Eliminou Dilma da foto antes de a foto ser feita.
Não temos a foto do voto de Dilma na urna eletrônica, o que não deixa de ser coerente com a situação que vivemos.
E a liberdade de imprensa? A liberdade de imprensa foi defendida em notinhas de cantinho de página, com palavras cuidadosas, em meia dúzia de linhas.
Em outros tempos, os grandes jornais teriam vergonha de não ter uma foto como esta.
Liberdade de imprensa, dependendo do caso, tem que existir mesmo é na Coreia do Norte.
Um golpe se completa quando tem o poder de fazer com que o jornalismo se acovarde.

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