A HORA MORTA

Os primeiros vazamentos de mensagens do escândalo Moro-Dallagnol completaram hoje oito dias. Os que esperam mais informações estão inquietos e inseguros. Moro e o governo devem estar com a sensação de que o pior já passou.

O que tivemos depois da abertura das comportas foi basicamente essa sequência. A publicação dos diálogos completos, a conversa em que Fux é classificado como confiável por Moro, Dallagnol falando da articulação com os americanos e Moro orientado os procuradores a armarem na imprensa um ataque a Lula.

A partir daí Moro muda a fala e a postura e começa a insinuar publicamente que os diálogos podem não ser verdadeiros. Mas o próprio Moro cai em contradição e admite descuido na ordem a Dallagnol sobre as provas contra Lula. E Dallagnol se aquieta. Só quem fala é o chefe, e o chefe dele é Moro.

Os diálogos completos serviram para mostrar que o comando de Moro sobre a força-tarefa do Ministério Público era exercido com certa naturalidade. Moro põe a turma de procuradores a cumprir tarefas, e eles se sentem felizes montando esquema para cercar Lula.

Mas isso foi suficiente para mostrar que o Intercept tinha, depois da arrancada, mais informações relevantes e impactantes? Relevantes, sim, porque mostram um clima que parece de relação cotidiana e de promiscuidade do juiz com seus subalternos que não deveriam trabalhar pra ele. Mas não impactantes.

Fux era confiável em relação a Teori Zavascki, que representava a única ameaça a Moro. Parece previsível. É um comentário sobre a proximidade da Lava-Jato com o ministro que ninguém espera que seja um problema para os delitos da força-tarefa. É comprometedor, mas não tem grande impacto.

Então, fica a sensação de que merecemos e podemos esperar mais. Mas pode ser que os vazamentos não ofereçam nada mais de chocante (principalmente para o grande público) e que o repertório se esgotou.

Pode ser também que esta seja a hora morta, a hora do suspense, quando um redemoinho arrasta a sujeira do meio da rua. Todos parecem adormecidos, mas de repente o vento bate na porta e um rangido de dobradiça nos acorda.

O Intercept pode nos despertar de uma hora pra outra, é o que se espera. Moro e seu pessoal já deram a entender que vão escapar.

Quarta-feira o ex-juiz será ouvido na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Pode não acontecer nada de especial. Logo depois, pega o avião e viaja para os Estados Unidos. Vai fazer o quê? Tratar de intercâmbios.

Eles parecem agir como se nada estivesse acontecendo, como fizeram todo tempo na Lava-Jato. Mas muitos dos que participaram do golpe de agosto de 2016 tinham a mesma empáfia. Tinham.

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