A próxima jogada de Boulos pode ser uma luta de boxe com Malafaia
Guilherme Boulos ouviu de Pablo Marçal, na conversa que tiveram em live no sábado, que não terá o voto do ex-coach, porque ele não irá apoiar alguém da esquerda jamais. “Eu gostaria muito que você apertasse o 50 na urna no domingão aqui”, disse Boulos.
Já se sabia a resposta do indivíduo que fraudou um documento para tentar tirá-lo da eleição no primeiro turno: “Eu, Pablo, não voto na esquerda jamais”.
E se fosse o contrário, se Marçal dissesse que iria votar em Boulos? Vamos imaginar as reações possíveis. Boulos iria exaltar o apoio do explorador de velhinhas em golpes pela internet?
Iria dizer que se sentia orgulhoso de ter o apoio de uma das figuras mais repulsivas produzidas pela política brasileira em todos os tempos? Perguntaria a Marçal o que ele gostaria de ter em troca desse apoio?
É complicado. A live deve ser vista muito além do que pode ter resultado como conteúdo sobre comunismo, ocupações, Jesus Cristo e prosperidade. Deve ser vista pelo que é, pelo simples fato de ter existido.
É muito mais do que o aproveitamento de uma oportunidade única, num meio que Marçal domina mais do que ele. Está muito além de questões sobre expansão de alcances em qualquer forma de comunicação.
Boulos conversou a dois com um sujeito sem escrúpulos, já condenado, que reafirma o que é sem arrependimentos e que que pode, logo adiante, fazer tudo o que fez no primeiro turno para desqualificar todos os que considera inimigos.
Boulos entregou a Marçal um habeas corpus da esquerda da esquerda, que ele representa como nome do PSol, o que, para repetir um clichê, normaliza a presença de Marçal na arena da esfera pública da política em conversas quase íntimas. Onde está teu Deus?
Boulos disse a Marçal que é possível, sim, conversar a dois, mesmo com um sujeito com o perfil do ex-candidato do PRTB, desde que essa conversa seja ‘civilizada’.
Equivale a dizer que é possível aceitar conversar com qualquer um, independentemente das graves questões de ordem moral e ética envolvidas. E do passado e do presente do interlocutor.
Boulos quis dizer que conversar com Nunes e Marçal é a mesma coisa, o que para muitos é mesmo. Mas será que é? Quais são os limites desse tipo de relação, considerando-se que Boulos foi atraído para o diálogo por um convite do sujeito, que poderia ter sido rejeitado?
Em nome do que Boulos aceitou essa conversa com um elemento que deveria ser tratado a partir de agora apenas como caso de polícia? Para dizer, como disse, que nunca fugiu de dialogar com ninguém?
Para pagar o preço de um diálogo esdrúxulo, na tentativa de captar os eleitores de Marçal? Por que é assim que funciona a política?
Conversar com quem quiser a conversa, desde que possa tirar vantagem disso, como se essa fosse uma bala de prata, numa situação em que a vitória de Nunes parece irreversível?
A resposta pode ser a última, que engloba todas as intenções explicitadas ou dissimuladas para a realização do encontro. Boulos está dizendo, como a maioria diz, que é assim que se faz política, principalmente em eleições.
Boulos suavizou a imagem do cara que não só o agrediu durante meses, mas desqualificou minorias, atacou gays e pobres e depreciou as mulheres, enquanto era denunciado por todos os oponentes no primeiro turno por seus vínculos com o crime organizado.
Boulos é apenas uma das vítimas de Marçal. Ele sabe que foi usado. Qual será a próxima jogada desse vale tudo? Uma luta de boxe com Malafaia?
Não adianta ficar tentando entender onde estão os erros nos candidatos da esquerda. Não caiu a ficha ainda, Moisés? O Brasil se nazistificou. É isso. O Boulos poderia ter ido ou não debater com o Marçal. Lula poderia ter ficado ao lado dele, colado, desde janeiro; a Tábata, o Datena e o Marçal poderiam ter feito uma frente ampla, caminhando de mãos dadas pelas ruas para tentar eleger o Boulos que nada adiantaria. O Brasil está nazistificado. Pode o Boulos tomar banho de marketing ou voltar a ser um autêntico líder de movimento social que não adianta. Pode SP ficar dois anos sem luz que não adianta.
É um país de nazi-pardos (expressão que o vocalista da banda Ratos de Porão, o João Gordo, inventou lá pelos idos de 2013).