APAGA ESTA CAPA, PIAUÍ
A revista Piauí, que acerta quase todas, erra feio na capa da edição de setembro e ajuda a confundir ainda mais os que já se submetem a algum tipo de confusão sobre a imagem de Bolsonaro.
A capa traz uma ilustração bonita, mas simplória, já usada como recurso semelhante em outras publicações, e associa Bolsonaro à brincadeira infantil da guerra com soldadinhos e tanques espalhados pelo chão (tem até a já famosa casinha branca).
Tratar Bolsonaro como uma criança de tempos analógicos é oferecer atenuante a um criminoso. Bolsonaro não é uma criança, é um idoso psicopata que se dedica sem contenção alguma a um genocídio.
O golpe imaginado por Bolsonaro com os militares não tem relação alguma com as guerras da infância de todos nós, ou pelo menos a maioria de nós, das gerações do século 20.
Tratar Bolsonaro como um menino dedicado a uma atividade recreativa é errar na abordagem e na configuração de dezenas de crimes que ele já comete, antes mesmo de acionar seus militares para a guerra do golpe.
A Piauí deveria recolher essa edição, refazer a capa e assim evitar os danos da sua contribuição ao bolsonarismo ‘lúdico’.
Mostrar Bolsonaro como uma criança que brinca equivale a concordar que o próprio Bolsonaro chame seus filhos barbados, todos envolvidos com fações e falcatruas, de garotos com numeração.
A capa é ruim em todos os sentidos. Bolsonaro é mostrado com uma candura quase ofensiva. E a ideia é um clichê raso, que deveria ser evitado por uma publicação desse porte.
A imagem não é a de uma criança perversa, mas a de um menino mergulhado em seu mundo antigo de soldadinhos de chumbo. Esse Jairzinho não existe.
A Piauí quis brincar de Norman Rockwell, um dos grandes ilustradores do realismo americano, e se quebrou.
(Apenas como acréscimo pessoal: nunca dei a meus filhos e nunca darei a meus netos brinquedos que simulem armas de guerra ou de qualquer tipo).
Excelentes ponderações, caro Moisés Mendes.
Palavras fortes que batem duro na cara daqueles que cevaram o Bozo e, agora, querem brincar com ele. O texto também se aplica a essa mídia que pariu, cevou e sempre passou o pano no monstrengo.
Boa, Moisés Mendes. Um jornalista que não brinca em serviço.
Obrigado.
A Capa me lembrou bastante as capas da MAD dos anos 80. Talvez pelo lado satírico da MAD fosse legal, mas na Piaui não caiu muito bem mesmo.
Ótimos comentários, moisés mendes, até porque a piauí é talvez a melhor revista do Brasil hoje. E tem outra coisa que capa traz, e que não comentas diretamente: ela paraece dizr que quem brinca de soldadinho na infância vai se tornar genocida quando adulto, isso é bem perigoso, assim como asosicar videogames violentos à formação do caráter de futuros serial killers. eu brinquei com esse soldadinhos quando criança, e não sou apegado às armas como o genocida, agora, na vida adulta. Essa associação não ajuda em nada o debate que precisa ser feito no brasil.