NÃO EXISTE MAIS O BOLSONARO DA AMEAÇA DO ‘ACABOU, PORRA!’

A quarentena de Bolsonaro termina no dia 21, uma terça-feira, se forem cumpridas as duas semanas de isolamento desde o anúncio do teste positivo de 7 de julho.

Até lá, ele pode continuar recolhido, que é o que lhe convém desde a prisão de Queiroz e do desmonte do golpe como blefe, e fazer apenas algumas aparições pontuais e ligeiras.

Bolsonaro pode gravar vídeos, chamar o homem da gaita e fazer propaganda da cloroquina com fundo musical. Pode até fingir que está sendo Bolsonaro, enquanto aperfeiçoa o papel de infectado que não infectou ninguém do seu entorno.

Mas em algum momento Bolsonaro terá de sair do modo gaiteiro. Terá de ir à rua, circular, receber visitas, participar de eventos, discursar e, se tiver coragem, até retornar ao cercadinho da militância que o aplaudia todas as manhãs na saída do Alvorada.

Bolsonaro tem mais oito dias para planejar a volta. Seu recolhimento desativou a militância, silenciou os generais e frustrou os que levaram a sério a ameaça do ‘acabou, porra”.

Aquele ‘acabou, porra’ no cercadinho, dirigido ao Supremo, é de 28 de maio. A ameaça de chute no pau da barraca é de 17 de junho. Queiroz foi preso no dia seguinte. No dia 19, Bolsonaro enviou três ministros à casa de Alexandre de Moraes em São Paulo.

No dia 20, Dias Toffoli afirmou em palestra virtual que é um equívoco tentar ver as Forças Armadas como poder moderador. Três dias depois da bordoada do presidente do Supremo, o Globo publicou o editorial com uma mensagem a Bolsonaro e aos militares em que define as ameaças de golpe de delírio e de farsa.

Bolsonaro foi murchando, abatido pela sequência de recados que recebeu do Supremo, sugeriu uma trégua e se acovardou. O teste positivo da Covid-19 já está consagrado como parte do plano de recolhimento.

Mas Bolsonaro terá de ser Bolsonaro de novo ou inventar outro personagem quando a sua quarentena acabar. Até o dia 21, o Bolsonaro versão home office pode fazer jogo de cena e imitar o Bolsonaro do cercadinho. Mas não basta.

O desafio da volta é grandioso, não só para o chefe, mas para os subalternos, incluindo os generais. Bolsonaro mandava seu ajudante tocar gaita e os militares dançavam cantando versos com ameaças de golpe. O baile está parado.

Noticia-se todos os dias que a militância ficou desorientada com a pasmaceira e a reclusão retórica de Bolsonaro e o bloqueio de mais de 80 contas do Gabinete do Ódio pelo Facebook.

Os empresários estão inquietos. Os investidores internacionais pressionam para que algo aconteça, mesmo que não saibam o que pode e deve acontecer.

Bolsonaro não ganhou uma só batalha nas últimas duas semanas, porque nem mesmo a soltura de Queiroz pode ser comemorada.

Perdeu força e repertório. Não enfrenta a pressão das ruas, como alguns acharam que aconteceria, mas é um homem acuado pelas questões policiais da família e pela fragilidade da sustentação política.

O apoio do centrão é uma agiotagem cara e instável. O lastro militar estará intacto até quando? Bolsonaro é o fio da gambiarra que pode estourar a qualquer momento, enquanto a pandemia se alastra.

Não espere que Bolsonaro volte a prestigiar manifestações golpistas em Brasília ao lado dos seus generais ou que faça declarações ameaçadoras. Não existe mais o Bolsonaro do delírio e da farsa do golpe.

Quem quiser pode até procurar, mas aquele Bolsonaro do ‘acabou, porra’ não existe mais.

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JUSTIÇA E JUSTICEIROS
O presidente Alberto Fernández convidou um grupo de juristas notáveis da Argentina para que apresentem propostas de reformas na composição da Corte Suprema do país e no funcionamento do Ministério Público federal.

Na Argentina, o Judiciário persegue as esquerdas há muitas décadas. O governo defende que juristas das mais variadas tendências corrijam defeitos de uma instituição que faz lá o que a direita faz aqui.

Fernández quer mais justiça e menos justiceiros. O grupo tem 60 dias para apresentar sugestões.

Uma ideia impossível de ser levada adiante aqui, enquanto o poder estiver nas mãos da extrema direita e o Judiciário sob o controle (ainda que precário) do lavajatismo.

3 thoughts on “NÃO EXISTE MAIS O BOLSONARO DA AMEAÇA DO ‘ACABOU, PORRA!’

  1. Alguém acredita que o bolsonaro tem o vírus? A estratégia é vender toque o gigantesco estoque de cloroquina que o exército produziu e tentar escapar de processos de desvio de finalidade de uso de recursos públicos.

  2. Ele está acuado, mas ainda longe de morrer politicamente. Sempre é bom ter em mente a advertência do epílogo do texto de Bertold Brecht, “A resistível ascensão de Arturo UI”.: “A cadela do fascismo está sempre no cio.”
    O projeto do bolsonaro é dar um golpe tenentista-miliciano, com as polícias estaduais e A baixa oficialidade. Trabalha cotidianamente pra isso.

  3. QUANDO SE É COBRA NO QUE FAZ
    Baseado em Homem da Cobra

    Quando nos deparávamos com alguém que falava sem parar, minha mãe dizia: “Eita, esse daí fala mais do que o homem da cobra”. Este dito cujo, pra quem não conhece ou não é tão velho, era um dos muitos que ganhavam a vida vendendo suas pomadas curativas, ali no turístico Ponto de Cem Réis, centro da capital paraibana.

    Perdi a conta das quantas vezes, ficava a espera dele mostrar a cobra, melhor dizendo a cobra da caixa; enquanto em meio a mágicas, tirava um ovo do fundo das calças dalgum pirralho, pra não dizer de mim mesmo. Chegava então perto do anoitecer, o sol já dava o ar do descanso e ver a cobra que era bom, a da caixa que fique bem claro, necas.

    Hoje em dia, agora já tendo perdoado o mágico enganador (era a maneira que ele tinha de ganhar a vida), deparo-me com outro que fala mais do que o homem da cobra; não está numa praça qualquer, mas sim, posa de boa praça, comunicador, José Luiz Datena. Cujo qual, no começo do pega pra capar do presidente com a impressa, por conta do uso ou não da Cloroquina; vi por varias vezes o Datenão, defender o presidente com unhas e dentes.

    Bom, se era de vontade própria e/ou de gosto do patrão maior, não se sabe, ou melhor fazer que não. O que sei apenas é que após aquela reunião ministerial, em que o pau comeu no centro, onde ministros foram ameaçados e que tais, termo pelo qual costuma fazer uso; alguém a mesa comentou ou confessou que “o pessoal da Band queria dinheiro”. Foi um tal de Óóó… Bastou pra no programa seguinte, Datena descer a lenha em quem de devido merecimento.

    Sábado passado, tarde de 11/07/2020, o apresentador fez questão de colocar uma pulga atrás da orelha de cada um dos seus telespectadores, questionando o por que de Bolsonaro ter contraído o Coronavirus e, não ter contaminado as mais de 100 pessoas que tiveram contato direto com ele. Chegou até a insinuar que o vírus seria uma possível mutação exclusiva, que atingi somente ao presidente, isto é, em outras palavras, encomendado.

    Ainda mais, pediu (pediu não, ele manda mesmo) a sua equipe verificar um fato contrário, de quando Bolsonaro esteve nos Estados Unidos e mais de 40 pessoas da comitiva pegaram Covid-19 e ele não. Pronto, já foi o suficiente pra um colunista no dia de hoje, dar a seguinte deixa: “Bolsonaro foi murchando, abatido pela sequência de recados que recebeu do Supremo, sugeriu uma trégua e se acovardou. O teste positivo da Covid-19 já está consagrado como parte do plano de recolhimento.”/Moisés Mendes.

    Portanto, tirem suas próprias conclusões, porque as minhas eu já tirei. Se tivesse que escolher bater de frente com a cobra, da caixa, do homem da cobra, prefiro enfrentar o réptil, do que a Datena; deste quero morrer amigo. Seu veneno é mais forte do que a da tal naja, soro do Butantã não sara.

    Charles Thon
    J Pessoa, 13/07/20
    Inverno Brasileiro

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