ARGENTINOS REMEXEM NOS PODRES DO JUDICIÁRIO

São mais retóricas do que efetivas as tentativas de enquadrar e punir Sergio Moro, aqui no Brasil, e não só em tribunais internacionais, como ex-juiz suspeito encarregado de perseguir Lula e as esquerdas.

E tampouco sabemos até agora qual é a dimensão da influência da direita e da extrema direita no Judiciário brasileiro, mesmo que se saiba que Moro não foi o único.

Os argentinos já avançaram nessa área, com investigações no Congresso que vão estabelecendo conexões das ações ilegais do governo de Mauricio Macri com determinados juízes.

Um exemplo recente está em reportagem do jornal Página 12 em que dois juízes da Câmara Federal de Cassação, Mariano Llorens e Pablo Bertuzzi, aparecem suspeitos de conluios com Macri, que governou a Argentina até o final de 2019.

A Câmara é um tribunal de apelação de segunda instância, que examina e pode revisar sentenças.

Passam por ali, entre outros, os processos sobre corrupção contra o próprio Macri e seus parentes. E também os processos abertos contra Cristina Kirchner, que só não foi presa, como aconteceu com Lula, porque era senadora.

Os dois juízes são apontados na reportagem, com base em suspeitas levantadas nas investigações de deputados e senadores, por envolvimento até com arapongas de Macri que espionavam adversários.

O deputado Leopoldo Moreau estima que a espionagem deve ter atingido mais de 300 pessoas e pelo menos 200 entidades. Políticos, sindicalistas, jornalistas, religiosos, servidores públicos e ativistas de todas as áreas e até parceiros do macrismo foram espionados.

A comissão parlamentar investiga essas ações a partir também de delações de arapongas arrependidos. Os dois juízes são suspeitos, entre outros motivos, porque frequentavam descaradamente a Quinta de Olivos, a residência oficial, onde Macri morava quando presidente.

Sem registro das visitas na agenda, os magistrados comiam e bebiam na Quinta porque eram amigos do presidente da República, que estava e continua envolvido em vários processos que eles mesmos iriam revisar.

Um outro juiz, Mariano Borinsky, que já aparecia em denúncias no ano passado, esteve com Macri por 15 vezes. Jogava tênis, futebol e paddle com o chefe de uma família que atua como máfia.

E no Brasil? Aqui, o Judiciário que condena negros e pobres, mas não tem vocação para condenar políticos de direita e poderosos, ainda está à espera de sindicâncias como as que acontecem na Argentina.

Se, depois da vitória de Lula, o país não cair na armadilha de uma trégua em que muita gente passaria pano, será preciso se dedicar à mesma tarefa.

Sergio Moro é apenas a ponta de muitos esquemas? É apenas o juiz mais célebre envolvido na caçada às esquerdas?

Por que empresários militantes políticos de extrema direita, ligados declaradamente ao bolsonarismo, estão impunes, apesar de serem investigados, denunciados e processados por vários crimes, entre os quais os de sonegação, lavagem de dinheiro e contrabando?

Se não fizer o que os argentinos estão fazendo com a investigação do período de Macri no poder, os brasileiros poderão ver a repetição do que aconteceu não só em Curitiba.

Mas como investigar? Com esse Congresso? Com esse centrão? Com tanta resignação? É complicado.

3 thoughts on “ARGENTINOS REMEXEM NOS PODRES DO JUDICIÁRIO

  1. A imprensa poderosa também tem papel importante no processo investigativo, não só o congresso e o judiciário. Como esses 3 atores estão de rabo preso com a burguesia nacional, não vejo esperança em uma justiça plena.

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