AS ABELHAS, KOLECZA E OS VENENOS

As abelhas estão sumindo há muito tempo. Só agora começam a aparecer estudos que denunciam com ciência o que todo mundo suspeitava. Os agrotóxicos estão matando as abelhas.

Os jornais trazem todos os dias alguma informação sobre o comportamento estranho das abelhas que sobrevivem, como a formação de colmeias gigantescas, numa tentativa desesperada de proteção contra um agressor cada vez mais violento.

As abelhas morrem porque ninguém reage ao novo avanço dos agrotóxicos. E os agrotóxicos avançam com o apoio dos políticos. Nem a imprensa reage mais. A imprensa cedeu ao poder das empresas.

Pois esse senhor aí da foto se chama Carlos Alberto Kolecza. Muitos, e eu estou entre esses, o consideram o maior repórter gaúcho de todos os tempos. Foi um dos grandes jornalistas brasileiros do século 20.

Nos anos 80, Kolecza fez para Zero Hora uma série de reportagens sobre os danos ambientais, econômicos e sociais dos venenos usados nas lavouras gaúchas.

Foi o mais completo inventário do jornalismo sobre a destruição de rios, plantas, solo, bichos e gente. As reportagens venceram grandes prêmios de jornalismo, num tempo de reconhecimento de esforços nessa área.

Kolecza contribuiu para que o Rio Grande do Sul liderasse a guerra contra os agrotóxicos, quando começava a se associar o uso dos produtos não só ao câncer, mas também à depressão e ao agravamento de algumas doenças mentais. Mais de 30 anos depois, regredimos. E agora aceleramos a regressão.

As abelhas apenas nos avisam que os envenenadores de alimentos e destruidores de vidas voltaram a agir impunemente.

É triste saber que agricultores preocupados com a sua sobrevivência em lugares preservados, que ambientalistas, sindicatos, ONGs, cooperativas (poucas) e Ministério Público perderam a capacidade de oferecer alguma reação consequente ao poder econômico que impõe leis e normas.

Para um jornalista, é desolador constatar que são reduzidas as chances de alguém fazer hoje, com a mesma profundidade, o que nosso colega Kolecza fez lá nos anos 80.

O jornalismo da grande imprensa se acovardou diante dos temas fundamentais que o consagraram como relevante a partir dos anos 60, mesmo em meio a uma ditadura.

Hoje, noticia-se pontualmente a morte de abelhas e isso é bom. Mas ninguém aprofunda informação e reflexão sobre o envenenamento geral. O Brasil que foi de Lutzenberger é agora o país da musa do veneno transformada em ministra da Agricultura.

O poder político da direita do vale-tudo e a força econômica dos grandes grupos envenenaram consciências. A imprensa é, pela omissão do silêncio, parte do conluio com os que matam abelhas e estão nos matando todos os dias.

 

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