AS ASSINATURAS DE ADESÃO AO PARTIDO DE BOLSONARO

Pessoa muito calma e conciliadora, meu amigo João Pedro recebeu o telefonema de alguém que pretendia abordar uma ‘cuestão’ importante (o cara falou assim mesmo: custeão, como Bolsonaro fala).

Essa era a cuestão: se o meu amigo poderia contribuir com a coleta de assinaturas para o novo partido da família Bolsonaro. Porque Flavio Bolsonaro disse num vídeo na internet que o partido é do pai dele.

João Pedro quis saber de onde o homem tirou que ele poderia contribuir para a criação de um partido cujo dono é o Bolsonaro. O cara disse que alguém da igreja o indicou. Vai no fulano que ele ‘colheta’ mil assinaturas (assim, colheta mesmo, como Sergio Moro fala).

Meu amigo respondeu que não se lembra mais nem da assinatura dele mesmo, que não teria como sair atrás da assinatura dos outros.

E aí perguntou: o partido terá a participação do Queiroz e dos milicianos do Rio? O homem disse que o partido é aberto a todos, sem discriminação, porque será o primeiro partido de direita do Brasil, e a liberdade é essencial para a direita.

Meu amigo insistiu: o partido de Bolsonaro será favorável à tortura e às ditaduras e terá reacionários que odeiam negros e gays e aplaudem a impunidade de policiais que matam pobres e negros?

O homem respondeu que a democracia tudo permite, inclusive que conspirem contra a democracia. João Pedro rebateu que não é bem assim, que a democracia é o bem maior a ser preservado e que isso está na Constituição.

O sujeito argumentou que os Bolsonaros, o pai e os filhos, defendem a Constituição como se estivessem defendendo Olavo de Carvalho e que o partido deles será forte porque terá o comando da família como protetora das leis e da ordem.

Será o primeiro partido de uma família no Brasil, disse o homem do outro lado da linha, sem pressa, como se tivesse tempo para conquistar um filiado depois de uma hora de conversa.

E aí meu amigo fez a pergunta final: Sergio Moro será um dos fundadores do partido? O homem afirmou que possivelmente, porque Moro e Bolsonaro convergem em quase tudo.

Meu amigo João Pedro disse então que iria aderir ao partido. O conhecido agradeceu e pediu que ele assinasse um documento que mandaria por email.

Meu amigo disse que o outro considerasse tudo assinado. E que entregasse um papel sem sua assinatura a Sergio Moro, porque o ex-juiz iria entender.

Moro, disse meu amigo, atribuiu a Lula a propriedade do famoso tríplex do Guarujá, mostrando um documento sem assinatura, quando ouviu o ex-presidente em Curitiba.

Lembra da cena? O homem disse que lembrava. Pois Moro usou uma ‘prova’ contra Lula, sem a assinatura de Lula e de dona Marisa Letícia, para assegurar que aquilo era um termo de adesão e que por isso o apartamento era dele.

O partido de Bolsonaro precisa de 491 mil assinaturas. Bolsonaro é contra o voto em urna eletrônica (por achar que favorece fraudes), mas agora quer assinatura virtual para que seu novo partido fique pronto logo.

Faça o seguinte, disse meu amigo: avise ao Sergio Moro que eu não assinei nada, mas que ele considere minha adesão ao partido como assinada.

E faça o mesmo com todos os 491 mil eleitores que precisam assinar adesão ao partido de Bolsonaro. Que ninguém assine nada. E peça depois que Moro envie à Justiça Eleitoral, sem assinaturas, o documento de adesão à tal Aliança pelo Brasil.

Lula foi condenado assim, com um documento sem assinatura. O Brasil também pode, se esse é o padrão da Justiça, ter um partido de extrema direita em que os eleitores dizem que assinam, mas não assinam nada.

O outro desligou o telefone e perdeu um filiado.

(A charge que ilustra este texto é do Montanaro e saiu hoje na Folha)

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