Diretas Já ou rendição

A esquerda que negociar saídas para a democracia que não passem pelo projeto das Diretas Já estará condenada a ser qualquer coisa mais adiante, menos esquerda.

Não há saída para as esquerdas que não passe pela tentativa das Diretas. Pode até ser que se repita o que aconteceu em 1983, quando a emenda das Diretas não passou no Congresso.

Aquela campanha deu lastro político a uma geração que, apesar de alguns descaminhos, chegou à eleição de 1989 e elegeria Lula 20 anos depois do sonho que Dante de Oliveira levou à Câmara.

Desta vez, não interessa se as Diretas serão uma ilusão, se haverá frustração com os que levarem a sério demais a ideia ou se a racionalidade da direita conseguirá mesmo, por antecipação, pulverizar o que seria mais uma utopia. O que interessa é que o único caminho para as esquerdas é lutar pelas Diretas.

Pode ser esta a hora de perceber o desejo dos brasileiros (e da classe média em especial) de retornar às ruas. Sem as ruas, o governo do estado de sítio de um dia não cai. Se o Congresso continuará ou não pisoteando a ideia das Diretas, como certamente vai fazer, nada disso interessa.

Importa que as esquerdas acreditem na possibilidade real de mobilização. Que se inicie com a volta do povo às ruas um projeto de reconstrução das esquerdas. E que as Diretas Já possam, antes de qualquer outro resultado, dar um grande susto na direita.

O resto poderá estar a cargo do imponderável, como esteve tantas vezes na política brasileira. Que as incertezas atuem em favor dos que desejam votar.

Falo disso tudo porque participei ontem à noite de um encontro com gente que deseja as Diretas Já. Alguns só para presidente, outros para presidente e para todo o Congresso.

A conversa aconteceu em torno das informações e dos argumentos da deputada Maria do Rosário, que convidou o grupo de gente de todas as áreas para trocar ideias e tentar entender o momento.

O que ficou desse encontro é isso mesmo: os políticos de esquerda não podem assumir compromissos com os conchavos das transições amarradas com os caciques do golpe. É preciso acreditar que um fato novo pode conturbar o conforto da direita. E esse fato é a campanha das Diretas.

Que o projeto das Diretas conturbe, tumultue e destrua os planos do novo golpe. Se não conseguir, será outra história. O que as esquerdas não podem (e não só o PT) é participar de atalhos em torno de nomes de sucessores para o jaburu.

O político de esquerda que receia assumir as Diretas Já (porque poderá ser cobrado depois por um eventual fracasso da ideia) que se alie logo ao projeto da sucessão negociada. E se despeça dos que continuam brigando pela democracia sem remendos.

Maria do Rosário reafirmou ali o compromisso de ir em frente. Que outros parlamentares se manifestem. O momento não é para quem tem medos.

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