AS MÁSCARAS DE 68

Um detalhe desalentador no dia em que o AI-5 faz 50 anos. A maioria das análises da grande imprensa é de jornalistas que lá naquele tempo se diziam de esquerda.
O Globo, por exemplo, tem na capa da versão online chamadas para textos sobre as vivências de Miriam Leitão, Fernando Gabeira, Zuenir Ventura e Ancelmo Gois. Eles contam o que estavam fazendo em 1968.
O que todo mundo sabe é o que eles fazem hoje. Todos tentam manter esse glamour da resistência à ditadura, mas estão hoje ao lado da direita. Alguns se dizendo de ‘centro’, mas fazendo o jogo da extrema direita.
Lá em 1968 eles e muitos outros estavam por acaso de um lado, porque os ventos os empurravam para aquela trincheira.
Mas eram reacionários à espera de uma chance de revelarem, na maturidade, o que hoje são. O que eles sempre foram é o que se revela agora.
Não há na capa do Globo uma só chamada, uma que seja, de jornalista à esquerda (nem precisa ser ‘de esquerda’) dos seus articulistas. Porque a imprensa foi sequestrada pela direita como não aconteceu nem na ditadura, porque hoje tudo é mais calhorda, mais dissimulado.
Os mais velhos já sabem, mas os jovens também devem saber que jornalistas que se diziam militantes de esquerda são hoje, em alguns casos, militantes ferozes da direita.
As faculdades de jornalismo precisam lidar com essa informação, e sei que a maioria lida muito bem. Golpistas não podem se proteger nas máscaras de 68.

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