A arte, as pessoas doentes e as pessoas sãs

Bernardo Mendes

Quando Bolsonaro disse que não assinaria o prêmio do Chico, a pessoa sã abandonou o barco. Não é possível. Ela esqueceu o Lula, o PT, os erros de lá e de cá. Isso soou como um sinal, um sintoma de que algo tá errado. É o Chico Buarque, porra. Chico é o nosso Bob Dylan. Até quem não gosta tem respeito.

Ninguém são abre mão da arte. E há aquele problema sério de não existir arte de direita. Sim, porque não há pinturas expostas em museu nenhum do mundo pra exaltar sinal de arminha, pra atacar diferenças, pra deixar mais bonito o ataque aos negros ou às demarcações de terras indígenas: ‘Quilombola vagabundo – óleo sobre tela, 1964’. Não tem. A arte é, substancialmente, a expressão de tudo o que o fascismo odeia.

Todo mundo lembra daquele site que em 2013 reuniu pinturas feitas por pessoas com transtornos mentais. A idealizadora, Marie-Louise Plum, acreditava, assim como a Louise Bourgeois, que a arte é uma garantia de sanidade. No mesmo ano houve aqui a exposição Faces da Mente, que trazia obras de pacientes tratados em consultório. E a ideia era a mesma: transmitir a mensagem de que a arte é uma ferramenta, uma aliada da sanidade. Beethoven, hoje se sabe, não era louco ou genioso, mas usava a arte pra ter momentos de alívio, pois o corpo tava tomado por chumbo.

O desprezo pela arte talvez seja o grande sinal de que a massa que permanece agarrada ao bolsonarismo é a camada adoecida da sociedade. É só racista, homofóbico, misógino, fascista. Já são poucos os ignorantes, estão sobrando só os atormentados.

Nas ruas, nos botecos, vejo relatos aqui todos os dias, há gente abandonando Bolsonaro.

Viva Chico.

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