BOLSONARO DESISTIU DE SER BOLSONARISTA

Esse Bolsonaro propositivo, que defende seu governo (“o maior programa de combate à corrupção foi executado por mim”), passeia de moto e se repete com a caixinha de cloroquina – esse Bolsonaro parece um impostor fazendo uma péssima imitação de Bolsonaro.

Há mais de mês Bolsonaro não produz uma frase, uma só, que prove que está bem. Bolsonaro só diz coisas absolutamente previsíveis para qualquer político, mas não para Bolsonaro.

A particularidade de Bolsonaro é sua capacidade de produzir agressões, gafes e bobagens únicas, incomparáveis, exatamente pela precariedade de reflexão e verbalização. Mas ele tem sido moderado e mediano.

É frustrante para a extrema direita e para os críticos das suas atitudes erráticas e muitas vezes criminosas.

A última aparição do Bolsonaro legítimo foi em 24 de maio, muito antes da notícia de que estava infectado.

Foi quando apareceu com o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, e o deputado Hélio Lopes (PSL-RJ) em uma manifestação fascista em Brasília.

Nunca mais Bolsonaro desceu do helicóptero diante do Palácio do Planalto para abraçar seus fãs.

No dia 15 de junho, Sara Winter foi presa. No dia 18, prenderam Fabrício Queiroz. Os dois foram depois soltos, mas o susto havia sido dado.

No dia 20, Dias Toffoli mandou dizer a Bolsonaro e aos militares que as Forças Armadas não são e nunca serão poder moderador da democracia.

Bolsonaro foi se encolhendo. Mas não se recolheu porque estava infectado. Ele só vai saber que estava com a Covid-19 no dia 14 de julho. Ali, ele já estava encolhido.

Mas há analistas insistindo que Bolsonaro montou uma estratégia ao ficar quieto. Não há estratégia. Não há outra saída.

Só não precisava tanto. Bolsonaro não poderia ter recuado a ponto de ficar irreconhecível. A moderação de Bolsonaro é a prova da sua incapacidade de continuar blefando. Ou ele pode voltar a ameaçar com o golpe e a atacar o STF?

É improvável. Os militares podem ter conseguido. Calaram Bolsonaro, que depende deles para se manter no poder.

O sujeito que saiu em campanha e já montou em jegue viajará a cada duas semanas pelo Brasil. Mas não é Bolsonaro.

Pode continuar governando para a mesma turma, para os racistas, os armamentistas, os homofóbicos. Mas será o mesmo sem a performance que o consagrou?

Se for para ficar assim, para ser um moderado, qual é a diferença entre Bolsonaro, Doria Júnior, Luciano Huck ou mesmo Sergio Moro?

O cara encolhido é quase um tucano. Bolsonaro está sem repertório. Desistiu de ser bolsonarista, porque – por enquanto – não há o que fazer.

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O DATAFOLHA SUMIU
Vamos rever as últimas pesquisas do Datafolha sobre o governo Bolsonaro.

No dia 23 de março saiu uma pesquisa com aprovação de 35% e reprovação de 33%.

Em 28 de abril, nova pesquisa. A reprovação sobe para 45%, já na pandemia, e a aprovação fica em 32%.

Depois, em 28 de maio, a reprovação caiu dois pontos, para 43%, e a aprovação subiu um, para 33%.

E em 26 de junho, a reprovação é de 44% e aprovação de 32%.
E em julho? Não se sabe, porque a Folha amarelou e tirou seu instituto de campo.

É possível que saia uma nova pesquisa hoje ou esta semana? Mas e a pesquisa de julho? Quem vai dar explicação?

A próxima pesquisa deve quebrar a sequência de estabilização em torno dos 30% de aprovação. Bolsonaro vai subir. E, com o socorro de R$ 600, pode subir muito.

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O NOVO TERRA
O sociólogo e colunista da Folha Demetrio Magnoli defende ardorosamente o retorno das aulas, porque o risco de perder o ano é maior do que o de perder vidas.

É o que ele diz. Magnoli é o novo Osmar Terra das ciências e das filosofias da direita.

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