BOLSONARO ESTÁ PEDINDO SOCORRO
O Brasil perdeu o controle da criatura. Ao avisar que, “se não estiver com a cabeça no lugar, eu alopro”, Bolsonaro fez uma advertência: saiam de perto porque pode vir coisa pior.
Os eleitores brasileiros criaram Bolsonaro como a sua grande aberração. Bolsonaro é uma criação coletiva, a representação de um Brasil que dissimulava suas deformações e crueldades e decidiu expô-las sem disfarces.
Mas Bolsonaro também cumpre agora o roteiro das criaturas que passam a agir fora do controle de quem achava que poderia manejá-las. Os ricos, a classe média atormentada, os liberais, os pobres desnorteados, todos os que inventaram Bolsonaro já sabem que não há mais como controlar Bolsonaro.
A criatura deveria ser apenas um antiPT, um antiLula, um cara que afronta o ‘sistema’, um medíocre que leva o brasileiro mediano e reacionário ao poder.
Mas Bolsonaro avisa que pode ser pior do que a invenção idealizada. Ele e os filhos são criaturas pedindo socorro.
Carluxo pede socorro quando escreve o que não ninguém entende no Twitter. Eduardo pede socorro quando tenta fugir para os Estados Unidos como embaixador. E Flavio pede socorro, tardiamente, sob cerco do Ministério Público, ao tentar se livrar dos milicianos cariocas.
Bolsonaro tenta minimizar o desfecho da tragédia anunciando-se como o aloprado, o cara que não consegue se controlar em situações que o atrapalham. É mais do que isso, Bolsonaro não é um Jerry Lewis.
Bolsonaro é um sujeito sob tensão permanente, com medo das reações dos filhos, dos ex-aliados, dos arquivos que guardam seus segredos, dos generais.
Bolsonaro tem de provar a todo instante que é macho, que sua família é de machos e que as mulheres (as mães) são as culpadas pela sua insegurança.
Todas as figuras incumbidas de fazer o mal, na realidade e na literatura, avisam que em algum momento o mal será produzido. Avisam, alertam, gritam que farão o mal.
Bolsonaro é a versão verde-amarela do Mister Hyde do Médico e o Monstro, que o Brasil criou para manter sob controle. É a figura que avisa, desde o começo, que não tem como calibrar seus próprios medos e ódios, porque ele e o Brasil que o inventou se misturam no que de fato são.
Bolsonaro deveria ser uma representação administrada do mal cotidiano, um susto nas esquerdas, uma tentativa de resgate da autoestima da classe média quebrada e assustada com os pobres e negros nas universidades (e nos shoppings). Virou isso aí.
Bolsonaro está dizendo: saiam de perto, porque eu só consigo dizer que sou aloprado. Seria bom se eu fosse apenas aloprado. Eu sou o que, no fundo, vocês sabiam que eu, quando estivesse completo, viria a ser.