BOLSONARO INVESTE NO INFERNO

O jejum que Bolsonaro recomendou para este domingo, “quando o inferno irá explodir”, é mais um movimento em direção à base que o sustenta em meio à pandemia e à ascensão de Luiz Henrique Mandetta.

Bolsonaro se jogou nos braços dos pobres e neopentecostais com a determinação dos desesperados. Mauro Paulino e Alessandro Janoni, diretores do Datafolha, apontam que aí está o suporte do bolsonarismo hoje.

É a confirmação de uma tendência apontada pelas duas pesquisas anteriores do instituto. Bolsonaro vai perdendo parte do apoio de brancos, machos, ricos e reacionários e conquistando, em compensação, mais apoio entre trabalhadores de baixos salários e informais e com baixa escolaridade.

Há contradições na pesquisa, segundo Paulino e Janoni. Bolsonaro continua com aprovação ao redor dos 30%, que é a sua marca (33% agora), mas a reprovação à sua performance no combate à pandemia cresceu muito, de 33% para 39%.

Os diretores do Datafolha tentam uma explicação: a base social de apoio a Bolsonaro, principalmente a dos pobres, chega a reprovar sua estratégia de enfrentamento da peste, mas não o abandona.

“O presidente deve a esses segmentos (baixa renda e baixa escolaridade) não só a crescente reprovação ao seu comportamento no combate à epidemia como também, por outro lado, a estabilidade de sua avaliação positiva”, dizem eles em análise na Folha ontem.

Por isso Bolsonaro se jogou com força, ao lado dos pastores evangélicos, no domingo do jejum. O vídeo divulgado com a fala de Bolsonaro e dos pastores tem um detalhe importante. O primeiro a pedir para que ninguém coma nada hoje é Bolsonaro.

O narrador do vídeo diz que o sujeito é o líder da “proclamação santa” pelo jejum.

Bolsonaro reafirma com a articulação com as igrejas o distanciamento do tiozinho reaça de classe média com a camiseta da Seleção. Ele quer massa, quer volume, e isso só existe entre os pobres, de preferência os ligados às igrejas evangélicas.

Ontem, uma carreata em Porto Alegre teria reunido cerca de 90 carros de militantes pelo fim do isolamento e pela reabertura do comércio. Mas essa gente não é bolsonarista, é apenas de extrema direita.

O Parcão, de onde eles saíram em carreata, é o centro de uma região de alta renda (e de muita gente em decadência), o que não significa nada em termos de fidelidade a Bolsonaro.

Os participantes de carreatas não são adoradores de Bolsonaro, são oportunistas. Querem seus negócios à frente dos interesses coletivos e da defesa da saúde pública.

Bolsonaro sabe que não pode se enganar com esse pessoal, muitos tão ou mais amorais do que ele. Bolsonaro quer o povo que possa manipular pelo medo e pela desinformação, para manter os 30%.

Ele não quer governar mais, porque isso agora é tarefa do general Braga Netto. Bolsonaro quer se manter vivo, pensando em 2022.

Não interessam a pandemia, a economia, o desemprego, as mortes, o que importante é que ele continua achando que seu grande projeto é a reeleição.

Bolsonaro se elegeu para poder se reeleger. O surto o levou a achar que é assim que ele se salva. Mas 2022 parece estar tão perto de Bolsonaro quanto o coronavírus do cume do Everest. Parece.

(A pesquisa Datafolha divulgada hoje mostra que Bolsonaro pode estar certo ao investir na ideia da reeleição: 59% dos entrevistas desejam que ele não renuncie).

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