CELSO DE MELLO DIANTE DOS JUSTICEIROS

Dias Toffoli escreve hoje na Folha sobre os 30 anos de Celso de Mello como ministro do Supremo. É um texto meio parnasiano, meio século 19, mas que não pode ser desprezado por seus significados.

É o presidente do Supremo escrevendo às vésperas da aposentadoria de Celso de Mello, que será substituído por um ministro indicado por Bolsonaro. Um legalista terá sua cadeira ocupada por um bolsonarista evangélico, como o próprio Bolsonaro ameaçou que fará?

Toffoli escreve: “Celso de Mello sempre se mostrou um juiz desassombrado e intransigente na defesa da dignidade da pessoa humana, dos direitos e das liberdades fundamentais”.

Desassombrado. Essa pode ser a palavra mais forte do artigo, considerando-se que vai depender de Celso de Mello o voto decisivo para que o STF aceite a acusação de suspeição contra Sergio Moro, apresentada pela defesa de Lula.

É a hora em que o país requisita a bravura dos que agem com desassombro. Pode ser o grande gesto final de Celso de Mello antes da despedida.

Toffoli exalta o ministro como defensor da Constituição, da ética, do Estado democrático de Direito e dos direitos das minorias (aqui parece uma resposta a Bolsonaro, segundo o qual as leis existem apenas para “proteger as maiorias”).

Mas Toffoli esqueceu de um detalhe, um só, singelo e poderoso. Deveria ter dito que Celso de Mello é um defensor do próprio Supremo, do que a Corte representa, da sua imagem e da sua reputação.

É o que se espera que faça quando votar no caso da suspeição de Sergio Moro. Que defenda a Constituição e as liberdades e assim defenda também o Supremo do ataque dos justiceiros. Só isso.

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