DO QUE BOLSONARO TEM MEDO

Quanto menos o Brasil estudar filosofia, mais eleitores os Bolsonaros terão. Todos os Bolsonaros, o pai e os filhos. E os seguidores deles, os governadores (inclusive o gaúcho, meio encabulado), os deputados, os vereadores.
Bolsonaro não está preocupado com o ensino técnico em contraposição ao ensino do que chamam de humanas. Bolsonaro não quer que pensem. E a maioria dos professores de Filosofia é de esquerda. Ele sabe.
A direita toda deseja que a educação seja utilitarista, para que os estudantes pensem o mínimo possível sobre a própria educação, sobre seu futuro e a sua capacidade de interferir na realidade. A filosofia sempre incomodou a direita.
Mas o que Bolsonaro fez foi apenas levar adiante uma tendência de todas as áreas, inclusive o jornalismo. Os jornais foram, historicamente, disseminadores de conhecimento e cultura, ao lado da informação noticiosa mais elementar. Mesmo durante a ditadura.
Pois os cadernos de cultura dos jornais desapareceram há muito tempo. Sumiram também os espaços para a reflexão mais complexa. Sobraram os lugares cativos para os palpiteiros da política e assuntos gerais. Poucas ideias menos óbvias circulam hoje pelos jornais.
No geral, os jornais não querem saber da provocação das ideias, nem mesmo dentro das redações. Querem a comodidade da fofoca política, da reportagem ligeira, das notícias obtidas em porta de elevador, com cada vez mais futebol, entretenimento e futilidade. Vale para as rádios.
Bolsonaro segue a linha da direita brasileira do século 21. Os empresários não querem empregados que pensem demais. Querem pragmáticos, repetitivos e obedientes.
Sem filosofia, sem sociologia, sem antropologia, sem ciência política, sem nada que ajude a entender as cabeças e o mundo, fica mais fácil imbecilizar um país.
O Brasil não chegou ao estágio em que se encontra por causa da filosofia, mas por pouca filosofia. Bolsonaro presidente é uma criação das ignorâncias, da incapacidade de verificação do que de fato significa, e também nisso as esquerdas falharam.
Como a universidade vai reagir? Os professores saberão instigar seus alunos para que reflitam sobre as intenções da extrema direita que chegou ao poder. Se não fizerem isso, serão aniquilados pela caçada bolsonarista.
Meu amigo Eliézer Oliveira, jovem professor de Filosofia no Ifsul (Instituto Federal Sul-Riograndense), campus de Livramento, sabe bem o que deve ser feito, porque já lida com essas ameaças há muito tempo e tudo o que faz é incentivar seus alunos a pensar. O pensamento é o terror dos déspotas.

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