É AGORA OU NUNCA

Vozes fortes da esquerda, e a do ex-governador e ex-ministro Tarso Genro é a mais potente delas, advertem que uma tentativa de se livrar de Bolsonaro agora poderia ser desastrosa.

Se um gesto em direção ao impeachment não desse certo, por falta de lastro seguro no Congresso, Bolsonaro poderia sair fortalecido e se tornaria inatingível no curto prazo.

Um raciocínio mais atrevido pode trazer junto, apenas por intuição, uma outra advertência. Se Bolsonaro não cair durante a pandemia e se conseguir se reerguer, passado o surto, também poderá deixar de ser ameaçado pelos que pensam em derrubá-lo pelos crimes contra a saúde pública, entre tantos outros.

Mesmo numa economia fragilizada, se passar pelo pior período da peste, Bolsonaro poderá criar fatos políticos, na sequência, que talvez acabem por tirá-lo da situação em que está.

A última pesquisa Datafolha é desalentadora para os que esperavam algum movimento de abandono de Bolsonaro, na fase mais aguda da
crise envolvendo Luiz Henrique Mandetta.

A pesquisa, feita logo depois da demissão de Mandetta, traz um resultado de certa forma previsível: a decisão de Bolsonaro foi reprovada por 64% dos entrevistados.

Mandetta tem carisma, havia conquistado a confiança da população e saiu em circunstâncias constrangedoras. Mas isso não quer dizer que Bolsonaro tenha passado a ser o grande vilão.

O apoio dos que consideram sua performance ótima e boa, que era de 33% no começo de abril, pulou para 36%. É o seu melhor desempenho nos últimos meses.

O Datafolha não analisa a pesquisa em detalhes, mas os números mostram que Bolsonaro continua perdendo apoio entre os ricos e ganhando, em troca, como compensação, apoio dos pobres.

Tanto que se mantém em 52% o índice dos que entendem que ele tem condições de continuar governando. Bolsonaro é uma figura cada vez mais atrapalhada e agressiva, mas a maioria deseja que ele fique.

Por tudo isso, pela incapacidade de reação ao desgoverno, pela confusão expressa pelas pesquisas e pela possibilidade real de recuperação de Bolsonaro depois da pandemia, ou ele cai nos próximos meses ou talvez não caia nunca mais.

As previsões para depois do surto são as piores possíveis, do ponto de vista econômico. O governo não terá de onde tirar mais dinheiro para ajudas de emergência, estarão esgotados todos os truques, inclusive o da liberação do FGTS, e as pessoas vão querer retomar empregos e trabalhos que em muitos casos não existirão mais.

Isso quer dizer que Bolsonaro estará fraco? Talvez não. Talvez a precarização da economia, da própria política e do ambiente social fortaleça Bolsonaro no que ele deseja que aconteça.

Bolsonaro, que hoje é um déspota pela metade, poderá ser um déspota completo ainda este ano.

E as instituições, as leis, o Supremo, as cortes internacionais? As instituições também dependem de suporte político para que consigam sair da terceira marcha, se é que desejam sair.

E as ruas? As ruas estão desacostumadas com inquietações desde muito antes do golpe de 2016. As ruas só ganharam ultimamente a presença dos que desrespeitaram os apelos para que se recolhessem ao isolamento.

As ruas que atraem gente para a ação política estão longe daqui, depois da Cordilheira, em Santiago e outras cidades do Chile.

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IMITANDO A EXTREMA DIREITA
Parte da esquerda, e não foi uma parte pequena, fez ontem com o novo ministro da Saúde o que a extrema direita tem feito com Lula, com a memória de dona Marisa Letícia e com tudo que eles consideram inimigos.

Uma mulher acusou na redes sociais o médico Nelson Teich de ser um monstro, por ter maltratado sua mãe doente terminal de câncer. Caíram de pau no homem.

Hoje, a mulher se retratou e admitiu que cometeu o erro por ter sido invadida por lembranças dolorosas.

O que acontece numa hora dessas é que alguém acha que, por ter tido alguma relação com a nova celebridade – e se a celebridade é de direita –, pode contribuir para o início do massacre nas redes sociais.

Uma turba enfurecida segue a corneta do malhador e em pouco tempo uma reputação pode ser destruída. Como os filhos de Bolsonaro fazem quando são seguidos por suas matilhas.

O médico é um empresário da medicina privada, um sujeito que pensa em saúde como negócio, que não entende nada de saúde pública, que certamente é de direita, mas é forte chamá-lo de monstro.

A esquerda tem usado, e não poucas vezes, as mesmas armas sujas da direita. Ataques como esse nos igualam no que existe de pior no debate político do mundo virtual, que é acusação leviana e sem provas típica de fascistas.

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CLAUSURA NO COPAN
Esta é a grande foto da clausura da classe média. É do emblemático edífício Copan, em São Paulo, e foi feita por Victor Moriyama, um dos mágicos da imagem.

Foi publicada pelo New York Times e republicada hoje pela Folha. Parece uma colagem de imagens feitas em vários momentos.

É como se a pandemia tivesse ressuscitado Edward Hopper, o pintor da solidão, para pintar várias solidões numa única tela.

One thought on “É AGORA OU NUNCA

  1. Não é um “monstro” quem publica um vídeo dizendo QUE entre salvar um jovem e um idoso, salvaria o jovem, quando tem a obrigação e poder de salvar os dois? Rsrs.

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