É difícil vencer até a tática para enganar manés

O estagiário de gestão pública da Câmara dos Deputados e o estagiário de direito penal do Supremo sabem de coisas que seus chefes não sabem ou fingem não querer saber.

O estagiário da Câmara sabe que Lula se esforça para salvar o Rio Grande do Sul, mas não consegue ver essa dedicação percebida na sua real dimensão pelos próprios gaúchos, porque a sabotagem ao socorro começa com a direita e a extrema direita do Congresso.

E o estagiário do Supremo sabe que, enquanto Lula se dedicava aos planos de recuperação do Rio Grande e à gestão dos dribles que leva na Câmara e no Senado, três deputados bolsonaristas estavam em Buenos Aires pedindo asilo a condenados pelo 8 de janeiro pelo STF e que viraram foragidos.

Os dois estagiários sabem que os deputados Eduardo Bolsonaro, Júlia Zanatta e Marcel Van Hattem foram à Argentina jogar para a torcida, porque a idiotia de Javier Milei não chegaria ao ponto de afrontar o Brasil com asilo para os manés traídos pelos golpistas.

Mas os estagiários sabem que, mesmo jogando para suas torcidas, os três deputados fidelizaram suas bases e até alargaram seus apoios muito mais do que Lula conseguiu no esforço para dizer que o socorro aos gaúchos é mais relevante do que o arcabouço fiscal.

A tática engana-mané dos deputados que foram fazer o teatro do socorro aos foragidos é mais efetiva do que a dedicação de Lula às urgências gaúchas. Até os socorridos por Lula enxergam menos o que ele faz, no confronto com os agradecidos aos deputados pela encenação que fizeram na Argentina.

É um resumo que parece grosseiro, mas é a realidade. Porque o poder de articulação do fascismo foi restabelecido, a capacidade de comunicação em redes sociais está viva e renovada e as fake news, agora com aval do Congresso, chegaram a outro patamar.

O bolsonarismo transformou direita e centro em linha auxiliar da extrema direita, não só para empreitadas, e por isso consegue produzir em Buenos Aires, como espetáculo, o que Lula nem sempre consegue mostrar como ação de governo. O espetáculo deles é para todos, para extrema direita, centro e direita.

Nesse cenário, não há como duvidar que, se andasse de jet ski hoje no Guaíba, Bolsonaro conseguiria mais repercussão com sua performance do que Lula no encontro com os desabrigados.

A foto de Lula com as vítimas da enchente, em São Leopoldo, em maio, não saiu na capa de nenhum jornalão. Nenhum. Todos esconderam a imagem.

Mas todos os jornalões davam em manchetes as motociatas com os tios do zap vestidos de preto. E mostravam com destaque os passeios do sujeito de jet ski em Santa Catarina.

Bolsonaro queria produzir e disseminar aquelas imagens, mesmo que as esquerdas achassem que aquilo era contra ele. Não era. Bolsonaro queria exposição, para fidelizar sua gente e atrair mais gente da direita.

É o que os congressistas fizeram com a sabotagem aos controles das fake news e à saidinha de presos. Jogaram para a galera, estreitaram laços e expandiram alcances. Tudo porque centristas, direitistas e fascistas disputam agora quase a mesma audiência e o mesmo eleitorado.

O que fazer? Se alguém souber, que avise os estagiários. Porque um estagiário enxerga coisas que seus orientadores muitas vezes não enxergam ou não querem enxergar.

One thought on “É difícil vencer até a tática para enganar manés

  1. Q tal o governo Lula permutar tratores, implementos agrícolas, sementes e adubos para a agricultura familiar em troca de uma parte da produção? Investir em centenas de milhares de habitaçôes populares a juro ínfimo? Fechar um acordo digno com trabalhadores e trabalhadoras da saúde e da educação federal? Demarcar o máximo de terras para povos indígenas, quilombolas e RIBEIRINHOS? Esses são os melhores caminhos pra ele atingir a população diretamente.

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